Genebra (Suíça) — Apesar do cessar-fogo anunciado no fim de outubro, bombardeios, ataques aéreos e confrontos armados seguem provocando mortes na Faixa de Gaza. O alerta foi feito nesta quarta-feira (10) pelo alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, que descreveu o território como palco de “sofrimento contínuo e generalizado”, mesmo após a aprovação do recente plano de transição para o fim das hostilidades.
Türk também rejeitou interpretações de que a chamada “Linha Amarela” — criada por Israel no interior do território para fins operacionais — represente qualquer forma de redefinição de fronteira ou alteração de status. Segundo ele, a presença dessa barreira tem provocado novas movimentações populacionais e intensificado a sensação de insegurança entre civis.
As declarações ocorrem após a adoção, em novembro, da Resolução 2803 (2025) do Conselho de Segurança da ONU, que estabelece etapas para reduzir a violência e ampliar o acesso humanitário.
Na avaliação do alto comissário, contudo, “o derramamento de sangue diminuiu, mas não cessou”, indicando que a implementação do acordo enfrenta obstáculos imediatos.
Dados das autoridades de saúde locais apontam que, desde o início da trégua, 360 palestinos morreram e 922 ficaram feridos em ações registradas principalmente ao redor da “Linha Amarela”.
O Escritório de Direitos Humanos da ONU contabilizou mais de 350 incidentes violentos no período, incluindo ataques que atingiram residências, tendas de deslocados e áreas civis próximas a pontos de restrição militar. Entre as vítimas confirmadas estão sete mulheres e 13 crianças.
A Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados Palestinos (Unrwa) informou que a movimentação de blocos de concreto utilizados para reforçar a “Linha Amarela” desencadeou novos fluxos de deslocamento interno, ampliando o número de pessoas que vivem em abrigos improvisados.
Famílias relatam falta de água potável, alimentos e itens básicos, ao mesmo tempo em que tentam permanecer afastadas de zonas de risco.
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Türk ressaltou que a população enfrenta “uma das mais graves crises de saúde mental já observadas pela ONU”, com crianças e adolescentes particularmente afetados pelos episódios sucessivos de violência, perda de familiares e deslocamentos repetidos.
Segundo o alto comissário, quase todos os habitantes da Faixa de Gaza apresentam sinais de trauma.
Ao marcar o Dia Internacional dos Direitos Humanos, Türk manifestou preocupação com o que classificou como “níveis sem precedentes de ataques contra palestinos”.
Ele defendeu acesso irrestrito de equipes humanitárias, proteção de civis e cumprimento integral das obrigações internacionais relacionadas à condução de conflitos armados.
Representantes da ONU reiteraram que, embora exista um acordo político em vigor, sua efetividade depende de adesão plena das partes e de mecanismos que garantam redução real das hostilidades.
Até o momento, a continuidade dos ataques demonstra que a situação permanece instável e altamente volátil, impedindo qualquer perspectiva imediata de normalização no território.











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