Política Monetária

Brasília (DF) — As vendas do comércio varejista caíram 0,3% na passagem de agosto para setembro, segundo a Pesquisa Mensal de Comércio do IBGE divulgada nesta quinta-feira (13). É a quinta queda em seis meses, em um movimento que mostra perda de fôlego do consumo das famílias. No acumulado de 12 meses, o setor cresceu apenas 2,1%, menor ritmo desde janeiro de 2024, o que aumenta a pressão sobre a política monetária do Banco Central.

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Os dados indicam que o varejo está 1,1% abaixo do pico registrado em março de 2025, ponto mais alto da série iniciada em 2000. Desde abril, quando o crescimento em 12 meses chegou a 3,4%, a trajetória é claramente descendente.

Na comparação com setembro de 2024, ainda há alta de 0,8%, mas o terceiro trimestre de 2025 fechou com recuo de 0,4% frente ao segundo trimestre, sinalizando um enfraquecimento consistente do setor.

O IBGE destaca que, mesmo com a sequência recente de resultados fracos, o volume de vendas segue 8,9% acima do nível pré-pandemia, medido em fevereiro de 2020. Na prática, isso significa que o varejo conseguiu recuperar as perdas do período mais agudo da crise sanitária, mas entrou, em 2025, em uma fase de estagnação.

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O analista Cristiano Santos resume esse movimento ao afirmar que o comércio “retoma a trajetória negativa” observada entre abril e julho, quando foram registradas quatro quedas seguidas.

A decomposição por segmentos mostra retração em seis dos oito grupos pesquisados. Livros, jornais, revistas e papelaria caíram 1,6%, em um setor afetado pela migração para formatos digitais.

Tecidos, vestuário e calçados recuaram 1,2%; combustíveis e lubrificantes e equipamentos de informática e comunicação, 0,9%; móveis e eletrodomésticos, 0,5%; e hiper e supermercados, que concentram consumo essencial, registraram queda de 0,2%.

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Esse conjunto evidencia que a fraqueza não é pontual. A redução da demanda atinge tanto bens duráveis — sensíveis ao crédito — quanto itens básicos, sinalizando maior cautela das famílias, que evitam novas dívidas e adiam compras relevantes.

Com a Selic em 15%, o custo financeiro permanece em um dos patamares mais elevados dos últimos anos, comprimindo margens e dificultando qualquer reação da demanda interna. O resultado é um setor que evita contratar e reduz o ritmo de reposição, com efeitos em cadeia sobre indústria, fornecedores e logística.

Nesse cenário, a manutenção prolongada de juros tão altos levanta dúvidas sobre sua eficácia marginal. A inflação desacelera, mas a política monetária segue travando a atividade. Às vésperas do período mais importante do ano para o varejo, o setor chega com vendas mais fracas e menor capacidade de investimento.

José Carlos Sanchez Jr.

José Carlos Sanchez Jr.

Jornalista com foco em economia e sociedade, dedica-se a investigar como decisões econômicas, políticas e sociais se entrelaçam na construção de um Estado de bem-estar social no Brasil.

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