Comércio de óleo de cozinha
Foto: Isac Nóbrega/PR / Agência Brasil

Washington — O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta terça-feira (14) que está considerando encerrar parte das relações comerciais com a China, com destaque para o comércio de óleo de cozinha usado. Analistas e operadores, no entanto, avaliam que a medida teria pouco impacto prático, já que as importações desse tipo de produto caíram drasticamente ao longo do último ano.

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“Eu acredito que a China, ao deixar de comprar nossas soja e causar dificuldades para nossos produtores, comete um ato economicamente hostil. Estamos considerando encerrar negócios com a China relacionados ao óleo de cozinha e outros setores do comércio, como forma de retaliação”, escreveu Trump em uma publicação nas redes sociais.

Ele acrescentou que os Estados Unidos têm capacidade para produzir internamente o óleo de cozinha que consomem. “Podemos facilmente produzir nosso próprio óleo de cozinha; não precisamos comprá-lo da China”, disse.

De acordo com dados oficiais, os Estados Unidos foram o principal destino das exportações chinesas de óleo de cozinha usado (UCO) em 2024, quando importaram 1,27 milhão de toneladas, equivalentes a US$ 1,1 bilhão.

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Entretanto, após a China reduzir os subsídios tributários no fim do ano passado e Washington impor novas tarifas sobre produtos chineses, as importações despencaram 65% entre janeiro e agosto deste ano, para 290.690 toneladas, avaliadas em US$ 286,7 milhões.

Diante desse cenário, operadores de mercado em Pequim disseram que o anúncio de Trump terá “impacto mínimo” sobre o setor. “Os produtores locais agora concentram os pedidos em países europeus e não consideram mais o mercado americano”, afirmou um dos negociadores sob anonimato.

Os Estados Unidos, historicamente, não figuram entre os principais mercados para o óleo de cozinha reciclado chinês — produto que pode ser transformado em diesel renovável e cuja exportação só ganhou relevância a partir de 2022. Países como Holanda, Singapura, Espanha e Malásia são os principais compradores do insumo há mais de uma década, segundo dados alfandegários chineses.

As exportações para Singapura, maior comprador em 2025, aumentaram 15% em relação ao ano anterior, totalizando US$ 537 milhões. Já os embarques para a Holanda, influenciados pelo movimento do porto de Roterdã, cresceram 131,5% no mesmo período.

Comércio de óleo de cozinha

O aumento das exportações chinesas de óleo de cozinha para os Estados Unidos em 2023 foi impulsionado por incentivos federais e estaduais americanos voltados à produção de biocombustíveis e pela corrida para a instalação de novas refinarias de diesel renovável.

Especialistas afirmam que o anúncio de Trump não representa uma escalada significativa das tensões comerciais entre os dois países, embora se some a uma série de novas tarifas e restrições impostas nas últimas semanas. “O comércio de óleo de cozinha usado é muito pequeno em comparação ao da soja”, disse o relatório. No ano passado, a China importou 22,13 milhões de toneladas de soja dos Estados Unidos, totalizando US$ 12 bilhões.

Para analistas, o gesto tem mais valor político do que econômico. “O óleo de cozinha usado é um comércio de nicho, mas mostra como a administração Trump tenta sinalizar apoio aos agricultores americanos, justamente no momento em que a China redireciona suas compras para outros fornecedores”, avaliou o analista sênior Chim Lee, da Economist Intelligence Unit.

A China é hoje o maior comprador mundial de soja. Nos últimos meses, reduziu significativamente as aquisições do grão americano em favor de produtores do Brasil e da Argentina.

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Trump tem classificado essa mudança como uma tática de negociação e afirmou que pretende discutir o tema diretamente com o presidente chinês, Xi Jinping, além de considerar suspender uma parcela das importações chinesas.

“Então, passamos de tarifas de 100% sobre todo o comércio chinês, em resposta ao controle de exportação de minerais críticos, para sanções pontuais sobre óleo de cozinha?”, ironizou Brad Setser, ex-funcionário do governo americano e integrante do Conselho de Relações Exteriores, em publicação na plataforma X. “Definitivamente, não é uma escalada.”

A discussão sobre o comércio de óleo de cozinha entre Estados Unidos e China ocorre em meio à ampliação das tensões bilaterais e à reorganização das cadeias de suprimento globais, segundo informações da Reuters.

José Carlos Sanchez Jr.

José Carlos Sanchez Jr.

Jornalista com foco em economia e política internacional, dedicado a interpretar como o poder e os mercados influenciam o Brasil e o mundo.

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