Trump
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Ao anunciar novas tarifas sobre produtos chineses, Donald Trump voltou a testar os limites da economia global. O republicano parece jogar xadrez num tabuleiro em que as peças são cadeias produtivas inteiras — e cada movimento seu provoca reações em Washington, Pequim e nas bolsas do mundo todo.

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Desde o início de seu segundo mandato, Trump intensificou uma política de elevação de tarifas sobre importações, mirando sobretudo a China, mas também outros parceiros comerciais.

O objetivo declarado é simples e antigo: reindustrializar os Estados Unidos. O método, porém, é arriscado. Ao encarecer produtos importados, o governo tenta forçar o consumo de itens nacionais e estimular a produção interna — mas, ao mesmo tempo, provoca alta de preços e desorganiza cadeias globais.

Nem mesmo analistas experientes conseguem afirmar se o republicano age movido por um plano estratégico ou por impulsos populistas. A verdade é que o custo político e econômico dessa guinada já é visível: produtos mais caros nos supermercados, incerteza entre investidores e tensão nas relações internacionais.

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Trump promete restaurar o orgulho da indústria americana, mas ignora que os Estados Unidos de 2025 são, antes de tudo, uma economia de serviços e tecnologia. Tentar voltar no tempo, num mundo altamente interdependente, é como tentar empurrar o rio para a nascente.

E os reflexos não se limitam às fronteiras norte-americanas. No Brasil, o aumento das tarifas alfandegárias provocou desequilíbrios no comércio bilateral. Produtos encareceram, exportadores precisaram de socorro e o governo teve de agir para conter o impacto sobre empregos e renda. É um jogo de perde-perde: ninguém sai ileso.

Enquanto isso, o mercado financeiro reage com o cinismo habitual. O sobe e desce das declarações de Trump — ora ataques, ora elogios a líderes estrangeiros — alimenta um ciclo de especulação: investidores compram o boato, vendem o fato e lucram com o caos.

A cada anúncio de tarifas, o dólar se fortalece, capitais fogem de economias emergentes e a desvalorização cambial se intensifica.

O resultado é paradoxal: o homem que prega a independência americana acaba fortalecendo o próprio dólar, atraindo recursos que tornam o país ainda mais central no sistema que ele diz combater. É o protecionismo travestido de globalização.

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Agora, com a nova rodada de tarifas sobre produtos tecnológicos chineses — que podem chegar a 130% —, a escalada ganhou contornos de guerra comercial aberta. Pequim retaliou, os investidores se retraíram e a incerteza virou o novo normal.

O problema é que, no centro desse tabuleiro, há milhões de trabalhadores que não jogam. São eles — nos Estados Unidos, no Brasil, na Ásia — que sentem os efeitos do aumento de preços, da retração do comércio e da instabilidade global.

No fim das contas, o “xeque-mate” de Trump talvez nunca chegue. Sua genialidade e seu delírio se confundem, como se ele próprio fosse peça e jogador desse tabuleiro mundial. O republicano compreende o poder do caos e o utiliza como ferramenta política.

Mas, enquanto ele move suas peças, quem paga a conta é o resto do mundo.

José Carlos Sanchez Jr.

José Carlos Sanchez Jr.

Jornalista com foco em economia e política internacional, dedicado a interpretar como o poder e os mercados influenciam o Brasil e o mundo.

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