Brasília (DF) — A secretária extraordinária do Mercado de Carbono do Ministério da Fazenda, Cristina Reis, afirmou na última sexta-feira (28) que a agenda climática passou a ocupar o centro das disputas internacionais e que o Brasil só conseguirá proteger seus interesses ao tratá-la como questão de soberania. No VI Encontro Nacional de Economia Política Internacional (ENEPI), no Rio de Janeiro, ela disse que o protagonismo crescente do país nas discussões sobre desenvolvimento e sustentabilidade decorre do Plano de Transformação Ecológica (PTE), estruturado pelo governo desde 2023.
Reis argumentou que o peso do Brasil nas negociações multilaterais está ligado à combinação entre ativos ambientais, capacidade energética e instrumentos regulatórios criados nos últimos anos.
Para ela, a transição ecológica se tornou um dos terrenos decisivos na competição por tecnologia, financiamento e padrões que moldam cadeias produtivas globais. “As discussões de clima não são meramente ambientais. São pura geopolítica”, afirmou.
Entre as iniciativas citadas pela secretária estão a Taxonomia Sustentável Brasileira (TSB) e o mercado regulado de carbono, ambos concebidos pelo Ministério da Fazenda no âmbito do PTE.
As medidas ganharam escala internacional após a criação do Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE), instituído pela Lei nº 15.042/2025, e da regulamentação que estabelece critérios para atividades sustentáveis. Segundo ela, esses marcos mostraram que o país pode estabelecer regras próprias sem abrir mão de seus objetivos internos.
Durante a COP 30, em Belém, a agenda brasileira avançou com o lançamento da Coalizão Aberta de Mercados Regulados de Carbono e do Fundo Florestas Tropicais para Sempre, iniciativas que receberam apoios internacionais.
Para Reis, esse movimento evidencia que a transição energética deixou de ser tratada como nicho e passou a integrar disputas entre países que buscam atrair investimentos, controlar tecnologias estratégicas e negociar condições de descarbonização.

A secretária também destacou oportunidades abertas para o Brasil. A matriz energética relativamente limpa, o potencial florestal e a posição no setor de biocombustíveis reforçam vantagem comparativa, mas ela ponderou que os desafios estruturais permanecem.
“Ainda não resolvemos questões profundas de nossa sociedade e de nossa economia”, afirmou, citando desigualdades históricas e dependências externas que restringem a capacidade de planejamento.
De acordo com Reis, fortalecer a base produtiva doméstica é condição para o país não reproduzir assimetrias presentes nas cadeias globais.
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A ideia central apresentada no ENEPI é que a transição ecológica, quando tratada como política econômica, pode reorganizar setores, gerar empregos qualificados e estimular inovação — deslocando o debate ambiental para o campo das escolhas estratégicas de Estado.
O PTE foi descrito como um eixo que integra instrumentos financeiros, regulatórios e fiscais. A secretária mencionou as emissões de Títulos Soberanos Sustentáveis, que ampliaram o financiamento público e fortaleceram o Fundo Clima.
Ela acredita que essas iniciativas expressam o esforço de construir uma nova matriz produtiva, com políticas de uso do solo, segurança hídrica, economia circular e gestão de resíduos articuladas à política industrial.
No entanto, mesmo com esses avanços, Reis afirmou que o país não terá uma transição soberana enquanto depender de tecnologia e financiamento externos.
No cenário atual, em que o Norte global utiliza a pauta climática para limitar a industrialização de países periféricos, o Brasil só avança ao tratar o clima como instrumento de poder e não como obrigação moldada por outros países.











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