São Tomé

São Tomé (STP) — O arquipélago de São Tomé e Príncipe sediou no Diálogo Político de Alto Nível “Unir Vozes para um Turismo Sustentável”, iniciativa que busca consolidar o turismo como um dos eixos centrais da diversificação econômica do país. O encontro, apoiado pela Comissão Econômica das Nações Unidas para a África (Uneca) e pelo Sistema ONU local, marca uma etapa decisiva na implementação da Conta Satélite do Turismo (CST), instrumento que mede o peso real do setor na economia nacional.

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Com pouco mais de 220 mil habitantes e dependência histórica de exportações de cacau, São Tomé e Príncipe vê no turismo sustentável uma alternativa estratégica para reduzir vulnerabilidades externas e criar empregos qualificados.

Segundo dados oficiais, o setor responde hoje por 11% do Produto Interno Bruto (PIB) e 10% do Valor Acrescentado Bruto (VAB) — proporções expressivas para uma economia de pequena escala, fortemente exposta a choques climáticos e flutuações do comércio internacional.

O diálogo político, realizado na capital, reuniu autoridades do governo, representantes da academia, do setor privado e da sociedade civil. O objetivo é garantir que a CST, ferramenta desenvolvida com apoio técnico da Uneca, seja integrada de forma permanente aos mecanismos nacionais de planejamento.

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Ao produzir dados regulares sobre emprego, receitas e investimento no turismo, a conta permite transformar o discurso sobre sustentabilidade em políticas públicas mensuráveis.

O encontro sucede um atelier técnico de validação que consolidou a segunda fase do projeto iniciado em 2024. Desde então, cerca de 25 especialistas santomenses foram capacitados em estatísticas e gestão de políticas de turismo, com participação de ministérios, universidades e organizações sociais.

A aposta na formação local visa criar autonomia técnica para que o país monitore, com dados próprios, o impacto social e econômico do setor.

Para a Uneca, o desafio é transformar o turismo em um pilar de diversificação econômica, capaz de gerar valor agregado em cadeias locais e reduzir a dependência de importações.

São Tomé

O diretor do Escritório Sub-Regional para a África Central, Jean-Luc Mastaki, destacou que o diálogo busca “traduzir resultados técnicos em compromissos políticos concretos”, consolidando o turismo sustentável como prioridade nacional.

Nos últimos anos, São Tomé e Príncipe tem reforçado parcerias com agências internacionais e países africanos para alinhar-se à agenda dos Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento (SIDS).

O turismo, por exigir infraestrutura, energia e logística integradas, pode funcionar como catalisador de investimentos e de cooperação regional, estimulando setores como agricultura, artesanato e serviços.

O arquipélago aposta na imagem de destino ecológico e culturalmente autêntico, apoiado em ecoturismo, observação de aves, gastronomia local e turismo científico. A preservação ambiental — especialmente das florestas e da costa — é tratada como ativo econômico e social.

Segundo a ONU, projetos de base comunitária nas ilhas de São Tomé e do Príncipe têm contribuído para gerar renda e manter populações jovens em atividades sustentáveis ligadas ao território.

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A consolidação da CST também tem valor simbólico: representa o esforço de um país africano de pequeno porte em desenvolver estatísticas próprias e integradas às metas de desenvolvimento sustentável. A ausência de dados consistentes foi, por décadas, um dos principais obstáculos à formulação de políticas de turismo que equilibrassem inclusão, preservação e geração de divisas.

No plano macroeconômico, a estratégia de São Tomé e Príncipe ilustra uma tendência mais ampla entre economias insulares e africanas: usar o turismo como plataforma de integração produtiva, e não apenas como fonte de receitas de curto prazo.

A visão apoiada pela Uneca coloca o turismo dentro de uma política industrial verde e digital, capaz de estimular setores complementares e diversificar exportações.

Para a população local, os efeitos esperados vão além do crescimento do PIB. A aposta é que o turismo sustentável amplie a base de empregos formais, fortaleça pequenas e médias empresas e consolide o país como exemplo de transição justa entre desenvolvimento e conservação.

O desafio, porém, continua sendo estrutural: garantir que o avanço do turismo não reproduza desigualdades regionais ou pressões ambientais. A meta, segundo o governo, é fazer da atividade um instrumento de coesão social e de construção de capacidades nacionais, conectando o país a uma economia global que valorize sustentabilidade e identidade.

José Carlos Sanchez Jr.

José Carlos Sanchez Jr.

Jornalista com foco em economia e sociedade, dedica-se a investigar como decisões econômicas, políticas e sociais se entrelaçam na construção de um Estado de bem-estar social no Brasil.

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