A iminente retomada das sanções internacionais contra o Irã, impulsionada por Reino Unido, França e Alemanha, dificilmente reduzirá as exportações de petróleo do país. Em vez disso, a medida pode favorecer refinarias chinesas, que devem ampliar a participação no mercado ao adquirir barris iranianos com desconto. As punições, conhecidas como snapback, incluem embargo de armas, restrições ao setor financeiro e limites à produção nuclear, mas dificilmente terão efeito duradouro sobre o fluxo de petróleo.
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A volta das sanções e o fim do acordo nuclear de 2015
O processo iniciado em 28 de agosto prevê a reativação de sanções suspensas após o acordo nuclear de 2015, que buscava impedir o avanço do programa atômico iraniano.
O pacto já havia sofrido um duro golpe em 2018, quando os Estados Unidos se retiraram sob o governo Trump, reinstaurando medidas rígidas contra Teerã. Agora, com o novo movimento europeu, o acordo praticamente chega ao fim.
Entre as medidas previstas estão congelamento de ativos, restrições de viagem, proibição de testes de mísseis balísticos e limitações sobre setores estratégicos como energia, navegação e bancos iranianos.
Exportações iranianas resistem às punições
Apesar de mais de uma década de sanções, o Irã desenvolveu mecanismos paralelos para manter seu petróleo no mercado. Entre as estratégias estão redes de intermediários, companhias de fachada, frota de petroleiros envelhecidos, operações de navio para navio em alto-mar e até desligamento de sistemas de rastreamento.
Essas práticas permitiram que as exportações, que chegaram a cair para 444 mil barris por dia em 2020, se recuperassem para cerca de 1,6 milhão de barris diários em 2025. Dados da consultoria Kpler indicam que quase 80% desse volume tem como destino a China, que consolidou-se como principal compradora.
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Benefícios para a China e erosão das sanções ocidentais
Com as novas restrições, é provável que compradores asiáticos mais cautelosos reduzam negócios, abrindo espaço para que refinarias chinesas aumentem sua fatia. A expectativa é que Pequim consiga negociar condições ainda mais vantajosas, pressionando preços para baixo.
O episódio evidencia a crescente dificuldade do Ocidente em impor sanções eficazes em um mercado global de energia cada vez mais fragmentado.
Assim como no caso da Rússia, medidas punitivas acabam alimentando um sistema paralelo de comércio, onde países como China e Rússia se beneficiam de petróleo mais barato, enquanto o efeito sobre a economia iraniana é limitado.