Moscou (Rússia) — O governo russo elevou o tom neste domingo (7) ao criticar o avanço militar dos Estados Unidos no Caribe e reafirmar apoio político e estratégico à Venezuela, em meio ao agravamento das tensões na região. O vice-ministro das Relações Exteriores, Sergey Ryabkov, disse que Moscou acompanha a situação com “grande preocupação” e advertiu Washington contra qualquer passo que possa desencadear um confronto direto. A declaração ocorre dias após a assinatura de um novo acordo de cooperação entre Rússia e Venezuela e no momento em que o governo Trump endurece sua retórica sobre operações militares contra supostos traficantes de drogas.
As críticas de Ryabkov foram dirigidas à presença norte-americana que Caracas classifica como provocação. Para o diplomata, o reposicionamento de tropas e meios militares dos EUA faz parte de uma estratégia mais ampla de reafirmação de domínio hemisférico.
Segundo ele, trata-se de uma “marca registrada” da política externa de Donald Trump, marcada pela pressão sobre países considerados adversários e pela tentativa de reconfigurar a influência norte-americana na América Latina.
Moscou, que nas últimas décadas aprofundou sua relação com Caracas no campo energético, militar e tecnológico, tem se posicionado como contrapeso a Washington no Caribe.
Ao destacar que Rússia e Venezuela “se apoiam mutuamente em muitas plataformas internacionais”, Ryabkov reforçou a mensagem de alinhamento político em um momento sensível, em que o governo venezuelano enxerga a movimentação militar americana como ameaça direta à sua soberania.
O vice-ministro afirmou ainda que Moscou está “ombro a ombro” com Caracas e que espera que a Casa Branca recue antes que a escalada resulte em um conflito em larga escala.
As declarações russas vêm depois de uma série de falas do presidente Donald Trump que ampliaram a tensão. No sábado (6), Trump anunciou que os Estados Unidos pretendem iniciar ataques terrestres contra suspeitos de narcotráfico, afirmando que seu governo conhece “cada rota, cada casa” associada a organizações criminosas.
A mensagem ecoa a retórica de operações de “ataque preventivo”, tradicionalmente usada para justificar incursões militares fora do território norte-americano.

Trump também afirmou recentemente que esse tipo de ação poderia ser direcionado contra “qualquer pessoa” envolvida na produção e venda de drogas para os Estados Unidos, mencionando especificamente Colômbia e Venezuela.
O discurso, feito em tom de ameaça generalizada, sugere que o governo norte-americano está disposto a reinterpretar limites de soberania e a expandir o conceito de combate ao narcotráfico para além das fronteiras marítimas, onde os EUA já operam com frequência.
A fala de Ryabkov evidencia a disposição da Rússia de usar sua proximidade com Caracas como instrumento de contenção à influência norte-americana.
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Embora o discurso russo mencione preocupação com estabilidade regional, a mensagem também projeta o interesse de Moscou em manter aliados estratégicos na América Latina, especialmente num contexto em que a rivalidade com Washington se intensifica em diferentes frentes — da Europa Oriental ao Oriente Médio.
Para a Venezuela, marcada por sanções econômicas e isolamento diplomático imposto pelos EUA nos últimos anos, o respaldo público da Rússia funciona como reforço simbólico e estratégico.
Além disso, a parceria oferece ao governo venezuelano margem para argumentar que a pressão norte-americana não ocorre em terreno vago, mas em cenário onde potências globais se posicionam. O discurso de Caracas, que classifica a movimentação americana como “agressão”, se fortalece ao ecoar preocupações compartilhadas por Moscou.
A retórica militarizada de Trump, por sua vez, amplia incertezas na região. Ao prometer ataques terrestres com base em suspeitas de produção ou circulação de drogas, o presidente norte-americano embaralha fronteiras entre política de segurança e política externa.
A sinalização de que ações poderiam ocorrer em “qualquer país” levanta dúvidas sobre limites jurídicos, riscos humanitários e impactos diplomáticos, trazendo à tona críticas sobre a instrumentalização do combate ao tráfico para fins geopolíticos.
O episódio evidencia um cenário em que tensões regionais se tornam palco de disputas entre grandes potências. Moscou aproveita o momento para reforçar sua presença e se contrapor à política de pressão dos Estados Unidos, enquanto Washington amplia o uso da questão do narcotráfico como justificativa para intervenções.
A Venezuela, no centro desse tabuleiro, navega entre a necessidade de proteção externa e o desafio de evitar que a rivalidade entre potências transforme o Caribe em foco de instabilidade internacional.











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