Honduras

Tegucigalpa (Honduras) — A candidata presidencial Rixi Moncada, do partido Liberdade e Refundação (Libre), denunciou neste domingo (23) uma tentativa de ataque ao sistema oficial de transmissão de votos de Honduras, a poucos dias das eleições gerais de 30 de novembro. Segundo ela, grupos ligados aos partidos tradicionais da direita teriam atuado a partir de Miami para comprometer o Sistema de Transmissão de Resultados Eleitorais Preliminares (TREP), responsável por encaminhar digitalmente os dados de cada urna durante a apuração.

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De acordo com Moncada, a suposta ação buscaria criar um ambiente de manipulação da contagem e preparar terreno para contestação dos resultados caso o Libre vença novamente.

O alerta veio acompanhado de um recado político: para a candidata, o ataque confirma que “setores que governaram Honduras por mais de um século não aceitaram perder espaço para um projeto popular”.

O bipartidarismo entre Partido Liberal e Partido Nacional, que definiu a política hondurenha por décadas, foi rompido em 2021 com a vitória de Xiomara Castro, também do Libre.

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No discurso ao interior do país, Moncada afirmou que a maior disputa não é apenas eleitoral, mas estrutural: envolve o embate entre um sistema político moldado por elites conservadoras e uma sociedade que, segundo ela, demanda mudanças profundas desde o golpe de 2009 e, mais tarde, durante os anos marcados por denúncias de corrupção e autoritarismo nos governos do Partido Nacional.

A candidata pediu que seus apoiadores se mobilizem para fazer uma apuração paralela na noite do pleito, fiscalizando cada uma das 19 mil folhas de resultado que saem das urnas hondurenhas. “Vamos contar voto por voto, com documentos físicos, para mostrar a verdade caso tentem fraudar o TREP”, disse.

A proposta, comum em processos eleitorais contestados na América Central, é apresentada como estratégia preventiva diante da tensão que costuma marcar as eleições do país.

Moncada também declarou que solicitará ao Conselho Nacional Eleitoral (CNE) e às missões estrangeiras que reforcem a segurança digital do sistema, cuja fragilidade já foi objeto de críticas em eleições anteriores.

Honduras

Organismos internacionais como a OEA e a União Europeia devem enviar observadores, mas historicamente suas missões não impediram denúncias de interferência, atrasos ou inconsistências técnicas, especialmente em pleitos disputados.

A eleição hondurenha acontece em turno único: basta o candidato mais votado para assumir a presidência, mesmo sem maioria absoluta.

O modelo favorece disputas fragmentadas e margens apertadas, o que torna qualquer ruído no sistema de apuração um elemento politicamente explosivo. Em 2013, Juan Orlando Hernández venceu com apenas 36,9% dos votos; em 2021, Xiomara Castro rompeu a hegemonia conservadora ao chegar a 51,2%.

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Nesta eleição, Moncada disputa com Nasry Asfura, do Partido Nacional — que tenta voltar ao poder após a derrota anterior —, Salvador Nasralla, do Partido Liberal, Nelson Ávila, do PINU-SD, e Mario Rivera, da Democracia Cristã.

A fragmentação amplia a disputa por votos e, ao mesmo tempo, aumenta o risco de que uma eventual contestação dos resultados seja usada politicamente pelos grupos tradicionais para desestabilizar o processo.

Além da presidência, os hondurenhos escolherão 128 parlamentares e os representantes do país no Parlamento Centro-Americano (Parlacen), um espaço regional decisivo para negociações políticas e econômicas.

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O resultado dessa eleição terá peso não apenas interno, mas também na correlação de forças na América Central, região marcada por crises institucionais e tensões entre governos progressistas e setores conservadores apoiados por parte do empresariado e da diáspora econômica radicada nos Estados Unidos.

Ao denunciar a tentativa de sabotagem, Moncada projeta a campanha para além do episódio técnico: transforma a defesa do processo eleitoral em disputa política central. Para ela, a integridade da votação se tornou símbolo da luta contra as estruturas que historicamente controlaram o país.

O desfecho no domingo dirá se Honduras continuará o ciclo iniciado em 2021, com uma agenda de reconstrução democrática, ou se os grupos tradicionais conseguirão recompor forças — seja pelas urnas, seja pelas sombras da computação eleitoral.

Redação IA Dinheiro

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A Redação IA Dinheiro produz reportagens e conteúdos com foco em democracia, desigualdade e políticas públicas.

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