Hidrogênio verde

O setor de energia brasileiro intensificou em 2025 a aposta no hidrogênio verde como vetor da transição climática. Em um cenário de mais de 100 projetos em andamento, contratos estratégicos assinados no Rio de Janeiro e movimentações bilionárias no pipeline, o país busca aproveitar sua matriz elétrica majoritariamente renovável para transformar o combustível em ativo de exportação e vitrine internacional na COP30, que será realizada em Belém em novembro deste ano.

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Uma nova fronteira para a energia brasileira

O hidrogênio verde, produzido a partir da eletrólise da água utilizando energia renovável, ganhou centralidade na estratégia energética nacional.

Segundo levantamento da consultoria New Energy Events, o Brasil tem hoje 111 projetos de hidrogênio verde em diferentes estágios, com investimentos estimados em US$ 82 bilhões e demanda potencial de 90 gigawatts em energia limpa para viabilizar a produção.

O diferencial brasileiro é a abundância de fontes renováveis. A matriz elétrica já é composta em mais de 80% por energia limpa, especialmente hídrica, solar e eólica, o que reduz a intensidade de carbono da produção.

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Essa vantagem coloca o país em posição de destaque frente a competidores globais, que precisam reestruturar sistemas energéticos ainda fortemente baseados em combustíveis fósseis.

Não é para menos que em setembro, a Azevedo & Travassos assinou contrato com a Petrobras para instalar uma unidade de hidrogênio no Complexo Boaventura, no Rio de Janeiro.

A parceria, além de reforçar o interesse de estatais e grandes grupos nacionais, mostra que o movimento não está restrito a intenções ou memorandos de entendimento: começa a chegar à fase de implementação concreta.

Exportação e geopolítica da transição

Se o potencial interno é relevante, a perspectiva externa é ainda mais promissora. O Brasil trabalha para posicionar o hidrogênio verde como commodity estratégica de exportação, aproveitando a demanda crescente da Europa e da Ásia por alternativas aos combustíveis fósseis.

Portos do Nordeste, em especial Pecém (CE) e Suape (PE), já estão mapeados como hubs logísticos para exportação de H₂ e derivados como amônia verde.

A dimensão geopolítica é inevitável. Ao mesmo tempo em que busca consolidar protagonismo ambiental, o Brasil também tenta ocupar espaços abertos pela guerra da Ucrânia e pela disputa entre Estados Unidos, União Europeia e China pela liderança tecnológica da transição energética.

A COP30, marcada para Belém entre os dias 10 e 21 de novembro, deverá ser a vitrine ideal para apresentar resultados, firmar acordos e buscar financiamento internacional.

No entanto, a construção desse mercado depende de marcos regulatórios robustos. Dessa forma, o Congresso discute propostas para definir regras de certificação, rastreabilidade e créditos de carbono associados ao hidrogênio verde.

Até porque sem um sistema transparente, o país corre o risco de perder competitividade diante de concorrentes que já avançaram em estruturas normativas.

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Desafios e riscos da aposta no H₂

Apesar do entusiasmo, os desafios são significativos. O custo de produção ainda é alto, variando entre US$ 4 e US$ 6 por quilo no Brasil, frente a metas globais de reduzir para menos de US$ 2 na próxima década.

Essa diferença limita a competitividade e torna essencial o avanço de subsídios, linhas de financiamento e investimentos em pesquisa e desenvolvimento.

Além disso, a logística é complexa. O hidrogênio é um gás de baixa densidade e exige infraestrutura cara para armazenamento, transporte e conversão em derivados. Isso significa que os projetos precisam ser integrados a polos industriais, portos e redes de distribuição para garantir viabilidade econômica.

Outro risco é a competição global. Países como Chile, Arábia Saudita e Austrália já anunciaram projetos de exportação em larga escala, com apoio massivo de governos e parcerias internacionais. O Brasil, embora tenha vantagens naturais, precisa mostrar capacidade de execução para não ficar apenas no papel.

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Entre oportunidade e credibilidade

Para o setor privado, a corrida pelo hidrogênio verde também é uma questão de credibilidade junto a investidores e mercados consumidores. Multinacionais instaladas no Brasil têm ampliado compromissos de neutralidade de carbono e podem usar o combustível como instrumento de descarbonização de operações.

Ao mesmo tempo, há expectativa de que o hidrogênio contribua para diversificar a pauta de exportações, hoje fortemente dependente de commodities tradicionais como soja, minério de ferro e petróleo. Essa diversificação pode reforçar a imagem de um Brasil inovador, capaz de unir recursos naturais à transição tecnológica.

Com o calendário climático em movimento e a COP30 no horizonte, o Brasil tem pouco tempo para transformar promessas em realidade. A vitrine internacional de Belém será o momento de comprovar se os projetos anunciados até aqui conseguem gerar energia, emprego e competitividade em escala.

Mais do que uma pauta ambiental, o hidrogênio verde tornou-se um teste de política industrial, estratégia diplomática e compromisso com o futuro climático.

José Carlos Sanchez Jr.

José Carlos Sanchez Jr.

Jornalista e redator especializado em economia, finanças e investimentos. É Administrador de Empresas com MBA em Gestão Financeira, Controladoria e Auditoria pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).

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