Brasília (DF) — A decisão do governo Donald Trump de retirar o ministro Alexandre de Moraes e sua esposa da lista de sancionados com base na Lei Magnitsky marcou uma inflexão no episódio que levou o conflito entre o bolsonarismo e o Supremo Tribunal Federal (STF) ao cenário internacional. O recuo americano encerrou, ao menos simbolicamente, a tentativa de usar pressão externa como instrumento para interferir em disputas institucionais internas no Brasil.
Moraes havia sido incluído na lista de sanções em julho, em uma medida inédita contra uma autoridade brasileira, sob a justificativa de supostos abusos de direitos humanos.
A aplicação da Lei Magnitsky impõe restrições severas, como o congelamento de ativos nos Estados Unidos e limitações a operações financeiras em dólar. Nesta semana, porém, o governo americano revogou a sanção, estendendo a decisão também à esposa do ministro e a uma entidade ligada à sua família.
A retirada ocorre após um período de reaproximação diplomática entre Washington e Brasília. Conversas diretas entre Trump e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, encontros em fóruns internacionais e a redução gradual de tensões comerciais criaram o ambiente político para a revisão da medida.
O gesto evidenciou que a sanção estava inserida em um contexto de negociação política mais amplo, e não ancorada em um processo técnico consolidado.
No Brasil, o episódio teve impacto direto sobre a estratégia articulada por Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos. O deputado buscou apoio de setores do trumpismo e de grupos da extrema direita internacional para apresentar o caso de Jair Bolsonaro como perseguição política conduzida pelo Judiciário brasileiro.
A aposta era deslocar o embate com o STF para fora do país, criando constrangimento internacional e pressão indireta sobre a Corte.
A inclusão de Moraes na Magnitsky foi tratada por esse campo como prova de êxito da ofensiva. A retirada da sanção, agora, inverteu o sinal político.

Ao recuar, o próprio governo Trump esvaziou a narrativa de que haveria consenso internacional sobre irregularidades cometidas pelo ministro. Mais do que isso, revelou o caráter instrumental da medida, sujeita a revisão conforme interesses diplomáticos.
O recuo também enfraqueceu outra frente de ataque que vinha sendo explorada paralelamente: a tentativa de associar ministros do STF a relações pessoais e profissionais para construir narrativas de suspeição.
Sem o respaldo simbólico de uma sanção internacional, essas insinuações perdem força política e voltam a depender de provas concretas, que até o momento não foram apresentadas.
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Para o Supremo, a decisão americana representou um alívio em um momento de forte exposição pública. Moraes vinha sendo alvo simultâneo de pressões externas e de narrativas internas que buscavam questionar sua legitimidade pessoal.
A retirada da sanção não encerra o confronto com setores da direita radical, mas reduz o componente internacional da ofensiva e devolve o debate ao terreno institucional brasileiro.
O momento do recuo é particularmente sensível. Com Jair Bolsonaro condenado e preso, o campo bolsonarista tenta reorganizar seu projeto político e testar novos nomes para 2026. A queda da Magnitsky elimina um dos principais ativos simbólicos dessa estratégia recente e reforça a percepção de isolamento da tática de confronto direto com as instituições.
Há ainda um efeito colateral relevante. Ao recorrer a sanções estrangeiras para atacar o STF, parte da direita acabou alimentando a percepção de que buscava resolver disputas internas por meio de pressão externa, narrativa que encontrou resistência mesmo fora do campo progressista.
O recuo dos EUA cristaliza esse desgaste ao mostrar que a aposta não se sustentou no tempo. O episódio ajuda a delimitar os contornos do conflito atual. O embate entre bolsonarismo e Supremo não se dá apenas no campo jurídico, mas na disputa por legitimidade política.
A retirada de Moraes da Magnitsky não transforma o ministro em figura incontestável, nem elimina críticas ao Judiciário. Ela apenas sinaliza que o confronto encontrou limites fora do país.
Ao desmontar a principal vitrine internacional da chamada “Operação Eduardo”, a decisão do governo Trump recoloca o conflito onde ele sempre esteve: na arena institucional doméstica.
É ali que decisões seguem sendo questionadas, defendidas ou revistas — por meio de recursos, debate político e voto, não por sanções externas sujeitas ao humor da diplomacia.











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