Bolsonaro
Fotos: Jorge Araujo/Fotos Publicas

Brasília (DF) — O PL planeja usar vídeos gerados por inteligência artificial e réplicas em tamanho real de Jair Bolsonaro durante a campanha eleitoral de 2026, numa tentativa de manter o ex-presidente presente na disputa mesmo enquanto cumpre pena na sede da Polícia Federal em Brasília. A estratégia combina manipulação tecnológica, culto à personalidade e exploração simbólica da imagem de Bolsonaro para preservar o eixo político de uma direita que ainda depende integralmente de seu líder condenado.

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O plano inclui a produção de vídeos sintéticos nos quais Bolsonaro “discursa” sobre temas de campanha, apesar de estar proibido de participar da vida pública.

Segundo dirigentes da legenda, a solução tecnológica serviria para “comunicar” posições do ex-presidente sem violar formalmente as restrições judiciais.

O recurso, porém, abre espaço para uma disputa sobre os limites da propaganda política em um cenário onde a capacidade de criar falas inexistentes pode distorcer o espaço público e ampliar assimetrias na disputa eleitoral.

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A iniciativa se soma a outro elemento já presente em eventos da extrema direita: painéis de papelão com a imagem de Bolsonaro, usados como substitutos simbólicos em atos partidários.

Essas figuras, espalhadas pelo país desde o fim de 2024, são utilizadas para fotografias, homenagens e encenações em eventos internos, como se estivessem mantendo viva a presença física de um líder que hoje enfrenta restrições legais e cuja ausência destaca fragilidades do bloco político que o sustenta.

A aposta nessas táticas revela a dificuldade do bolsonarismo em reorganizar seu projeto sem a figura central que o estruturou. Em vez de produzir novos quadros ou propor caminhos programáticos, o PL transforma a presença do líder em objeto de reprodução técnica — seja por meio de inteligência artificial, seja por representações estáticas.

Essa escolha evidencia que o partido não busca apenas adaptar-se ao ambiente eleitoral, mas preservar uma identidade política que depende do mito de um indivíduo, mesmo quando ele está juridicamente impedido de atuar.

Bolsonaro
Fotos Públicas

Além da produção de vídeos e do uso dos painéis, o PL também prepara uma campanha que intensifica a participação de figuras ligadas diretamente ao ex-presidente.

Michelle Bolsonaro, Flávio Bolsonaro e o deputado Nikolas Ferreira devem ser expostos como herdeiros políticos e porta-vozes autorizados de um projeto que tenta sobreviver enquanto o principal símbolo está encarcerado.

A ampliação dessas figuras funciona como complementaridade ao simulacro: mantêm a família e seus aliados próximos do centro do debate e reforçam que o capital político do bolsonarismo não se desloca para outras lideranças.

A estratégia responde a uma necessidade de garantir que o ex-presidente continue mobilizando bases mesmo sem falar, viajar ou pautar a agenda pública.

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A substituição da política por simulações tecnológicas não é um gesto isolado do PL; ela se insere em um padrão global de movimentos de extrema direita que tentam contornar limites judiciais criando narrativas paralelas para seus líderes.

Ao operar dessa forma, a legenda constrói uma campanha que não disputa apenas votos, mas a própria definição do que é presença política em um contexto de crise institucional.

Esse recurso ao artificial também aponta para uma contradição estrutural do bolsonarismo. Enquanto se apresenta como movimento de “verdade” e “autenticidade”, recorre a mecanismos que produzem versões fabricadas de seu próprio líder.

O efeito político é substituir o real por uma performance que mantém ativo o imaginário que sustenta o projeto, sobretudo entre eleitores mais mobilizados emocionalmente. A prática, porém, reforça uma lógica de erosão do debate público que prioriza narrativa sobre fato, símbolo sobre materialidade, líder sobre programa.

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Com o avanço das ferramentas de IA na política, a disputa de 2026 já se anuncia como uma eleição marcada pela manipulação audiovisual e pela fabricação de presença.

O uso de simulacros para substituir um ex-presidente condenado não trata apenas de estratégia eleitoral, mas de um esforço para prolongar artificialmente um ciclo político que perdeu capacidade de comando real.

Ao apostar na tecnologia para recriar Bolsonaro, o PL reconhece, ainda que indiretamente, que sua força não está em seu projeto, mas na figura que tenta manter viva a qualquer preço, ainda que já tenha morrido.

Redação IA Dinheiro

Redação IA Dinheiro

Equipe editorial dedicada a explicar decisões do Estado, traduzir políticas públicas e orientar cidadãos sobre como acessar seus direitos e benefícios sociais.

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