Guiné-Bissau

Bissau (Guiné-Bissau) — Militares que se autodenominam “Alto Comando Militar para a Restauração da Ordem” tomaram o poder na Guiné-Bissau nesta quarta-feira (26), suspenderam as eleições presidenciais e legislativas e fecharam todas as fronteiras do país, alegando agir para impedir um suposto plano de desestabilização envolvendo narcotraficantes e armas ilegais, às vésperas da divulgação dos resultados oficiais.

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O anúncio foi feito pelo general Denis N’Canha, chefe da Casa Militar presidencial, durante coletiva no quartel-general do Exército, cercado por soldados fortemente armados. Ele declarou que o comando militar assumiria o controle do país “até segunda ordem” e determinou toque de recolher imediato. A coletiva ocorreu poucas horas após relatos de tiroteio nas proximidades do palácio presidencial.

Fontes locais informaram que membros da Guarda Presidencial ocupam rotas estratégicas e que a Comissão Eleitoral Nacional foi atacada por homens armados não identificados.

O presidente Umaro Sissoco Embaló, considerado favorito na disputa, estaria abrigado em área próxima ao quartel, segundo militares — informação ainda não confirmada oficialmente. A eleição de domingo havia ocorrido sem incidentes graves, mas sem a participação do histórico PAIGC.

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Tanto Embaló quanto o opositor Fernando Dias da Costa haviam reivindicado vitória antes da divulgação oficial dos resultados, prevista para quinta-feira (27). O país já acumulava tensões após a exclusão do PAIGC das eleições legislativas, o que a oposição classificou como “manipulação”.

O golpe, embora justificado pelos militares como reação a um suposto complô armado, reforça um padrão recorrente na política guineense: a tendência das Forças Armadas de arbitrar disputas civis e interferir diretamente em processos eleitorais.

A falta de provas apresentadas sobre o alegado plano de desestabilização segue o roteiro de outros episódios em que o discurso de “ordem” é mobilizado para interromper transições democráticas.

A crise também expõe a fragilidade institucional de um país onde a pobreza extrema, a dependência econômica e a permeabilidade ao narcotráfico criam ambiente fértil para rupturas.

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A Guiné-Bissau funciona há décadas como corredor estratégico para o tráfico de drogas entre a América do Sul e a Europa — e golpes de Estado frequentemente reorganizam o controle sobre essas redes, sob o pretexto de estabilização.

Além disso, o episódio se encaixa na onda de golpes que se espalhou pela África Ocidental desde 2020, com Mali, Burkina Faso, Níger e Guiné-Conacri passando por rupturas similares.

Em todos esses casos, militares se apresentam como restauradores da ordem, mas consolidam o poder sobre sistemas políticos frágeis, muitas vezes com apoio de segmentos econômicos interessados na manutenção de zonas cinzentas institucionais.

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O futuro imediato do país permanece incerto. Sem informações claras sobre a situação do presidente Embaló e com o processo eleitoral oficialmente suspenso, cresce o risco de uma paralisia prolongada e de uma nova rodada de disputas internas entre facções do Exército e grupos civis.

A comunidade internacional acompanha o caso com preocupação, diante de mais uma ruptura que coloca em xeque a já frágil democracia guineense.

Para um país que convive com ciclos de instabilidade desde a independência, a ruptura atual aprofunda os desafios para consolidar instituições estáveis e retomar um caminho democrático.

Redação IA Dinheiro

Redação IA Dinheiro

Equipe editorial dedicada a explicar decisões do Estado, traduzir políticas públicas e orientar cidadãos sobre como acessar seus direitos e benefícios sociais.

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