Os ativos argentinos registraram forte valorização nesta terça-feira (23), em meio à expectativa de uma reunião entre o presidente Javier Milei e o norte-americano Donald Trump. O peso argentino chegou a subir quase 5% contra o dólar e os títulos internacionais avançaram mais de 2% antes de devolver parte dos ganhos. O movimento reforça o otimismo iniciado no dia anterior, após o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, indicar que “todas as opções” de apoio a Buenos Aires estavam sobre a mesa.
Prefere ouvir o artigo? Então aperte o play!
Rally de ativos argentinos antes de encontro Milei–Trump
Segundo dados da MarketAxess, os bonds internacionais chegaram a subir 2,3 centavos de dólar antes de acomodar ganhos em torno de 1 centavo. O peso argentino, que vinha de semanas de forte pressão, reverteu a tendência negativa e acumulou valorização de quase 10% em dois pregões.
A bolsa de Buenos Aires, no entanto, mostrou desempenho misto: após alta de 8% na segunda-feira (22), o índice Merval recuou cerca de 2% nesta terça-feira.
Apoio dos EUA ainda sem definição clara
A sinalização de Washington aumentou as apostas sobre algum tipo de suporte financeiro ao país, mas analistas alertam que ainda não há clareza sobre o formato. “Um empréstimo atrelado a futuros investimentos parece mais realista do que uma compra direta de pesos ou um swap cambial”, avaliou Simon Waever, estrategista do Morgan Stanley.
O governo norte-americano não detalhou se a ajuda pode envolver linhas de swap ou compras diretas de moeda.
Em paralelo, a Argentina mantém ativo um acordo de swap com o Banco Central da China, renovado em US$ 5 bilhões neste ano dentro de uma linha total de US$ 18 bilhões — instrumento que ajudou a reforçar reservas, mas gerou críticas em Washington.
Leia mais
-
OECD eleva previsão de crescimento global, mas alerta que choque das tarifas dos EUA ainda não foi totalmente sentido
-
BCE enfrenta divisões políticas e vê risco de perda de protagonismo global do euro
-
Com pacote de estímulos, China testa limites do capitalismo de Estado
-
Avanço dos BRICS redefine a disputa por influência global
Incertezas políticas ainda pesam sobre Milei
Apesar da recuperação recente, os títulos argentinos acumulam queda de quase 10% no ano, reflexo de dúvidas sobre a capacidade do governo de sustentar seu programa de reformas.
Além do cenário externo, fatores domésticos voltaram a pressionar o mercado: denúncias de corrupção em aliados próximos de Milei e uma derrota inesperada na eleição local em Buenos Aires aumentaram a desconfiança sobre a estabilidade política do presidente.
Ainda assim, investidores avaliam que a eventual entrada de apoio norte-americano pode redefinir a trajetória da economia argentina, marcada por volatilidade recorrente e sucessivos episódios de default da dívida.