A educação financeira no Brasil é um tema que deveria ser simples, mas, na prática, é um verdadeiro dilema. A falta de acesso a informações básicas sobre como lidar com o próprio orçamento reflete diretamente na desigualdade social e econômica do país.
Mas, afinal, por que ainda estamos tão distantes de uma conscientização financeira geral?
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O tabu do dinheiro
Confesso que minha relação com o dinheiro desde cedo nunca foi das melhores. Deve ser por isso que escolhi a profissão de administrador e mais posteriormente resolvi me especializar em finanças.
Minha infância foi marcada por bastante problemas financeiros. Meu pai era comerciante e estava sempre com dificuldades em equilibrar o orçamento doméstico, ainda que tentasse dar uma vida confortável para nós.
Mas o que posso dizer é que não me vejo como exceção. E sim como parte da grande massa brasileira, que por não ter educação financeira, carrega um estigma de desconforto quando o assunto é finanças.
Percebo claramente isso até hoje.
Ao tentar abrir um papo sobre o orçamento doméstico, seja com amigos ou familiares, logo se percebe a resistência. Para muitos, “falar de dinheiro” é um tabu.
No fundo, o que a maioria não percebe é que esse silêncio acaba criando uma mentalidade herdada, onde a ignorância financeira se perpetua de geração em geração.
A falta de educação financeira nas escolas
Além do ambiente doméstico, quando se olha para o sistema educacional brasileiro, a falta de educação financeira é gritante.
Nas escolas públicas e privadas, o foco está em matérias como matemática, português, ciências, e história, mas ninguém ensina como lidar com o próprio dinheiro.
Ao sair da escola, um jovem brasileiro pode ser excelente em matemática, mas completamente despreparado para controlar o próprio orçamento, entender a diferença entre crédito e débito, ou até mesmo fazer uma reserva de emergência.
E o resultado pode ser visto nos números: 77,6% das famílias brasileiras endividadas, de acordo com dados divulgados mensalmente por instituições de crédito no Brasil. Ou seja, a gente vai criando um ciclo vicioso, que só poderia ser quebrado por meio da educação.
A revolução educacional
Somente com a introdução de uma disciplina voltada para educar os jovens financeiramente é que daremos um passo importante para minimizar as desigualdades.
Mas por que isso não acontece? Porque é mais interessante o consumo desenfreado e o crédito fácil. Posso dizer que é uma espécie de bolha que entramos:
- Você gasta mais do que ganha;
- Precisa de empréstimo para pagar as contas;
- Trabalha para pagar esse empréstimo;
- No final precisa de um novo empréstimo.
Esse ciclo alimenta o sistema financeiro e cria uma espiral de endividamento da população.
Afinal, é muito mais difícil você juntar por dois anos para comprar um carro, do que financiá-lo em dois anos. E isso vale também para o cartão de crédito e outras linhas de empréstimos pessoais que nos são oferecidas a todo instante.
Ainda que existam algumas iniciativas pontuais, como as promovidas pelo Banco Central e pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a educação financeira no Brasil ainda é fragmentada.
O país precisa de uma revolução em termos de conscientização e aprendizagem sobre o dinheiro se quiser realmente melhorar o IDH e outros indicadores relevantes.
Só assim será possível criar um futuro onde cada cidadão tenha a capacidade de tomar decisões financeiras mais conscientes e responsáveis.