Nova York (EUA) — Pela trigésima terceira vez desde 1992, a Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou, nesta quarta-feira (29), uma resolução pedindo o fim do embargo econômico e comercial imposto pelos Estados Unidos a Cuba. O documento recebeu 165 votos a favor, sete contra e doze abstenções — um resultado previsível, mas carregado de novos sinais políticos.
Entre os que se abstiveram estão países que historicamente integravam o eixo latino-americano e europeu de apoio à ilha, como Costa Rica, Equador e Romênia. Pela primeira vez, Argentina e Paraguai votaram contra, ao lado de Estados Unidos, Israel e Hungria.
A mudança de votos e abstenções revela um esvaziamento do tema — o desgaste de um símbolo que sobreviveu à Guerra Fria, mas perdeu a força de mobilizar solidariedades automáticas.
O embargo, em vigor desde 1960, permanece como uma das sanções econômicas mais longas da história moderna. No texto aprovado hoje, a ONU reafirma a soberania dos Estados e pede o fim de medidas extraterritoriais, como a Lei Helms-Burton, que pune empresas estrangeiras que mantenham negócios com Havana.
Mas, seis décadas depois, o gesto diplomático tornou-se ritual: a cada ano, a condenação é repetida e ignorada. Para Cuba, os efeitos são profundos. O bloqueio limita o acesso a crédito, encarece importações e asfixia investimentos em energia e tecnologia.
Como alternativa, o país busca ampliar laços com a China, a Rússia e nações africanas e tenta se inserir em cadeias produtivas regionais, investindo no turismo como válvula de sobrevivência. Ainda assim, a economia segue presa a uma estrutura que depende do Estado e carece de inovação e produtividade.
A diferença é que o mundo em volta também mudou. A multipolaridade emergente dilui velhos antagonismos, e o tema do embargo já não é um marcador ideológico, mas uma herança incômoda. A América Latina, que antes votava em bloco, agora equilibra interesses com Washington e Pequim. A União Europeia hesita entre princípios e pragmatismo.
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A cada nova votação, o isolamento de Cuba deixa de ser apenas econômico para se tornar histórico — a persistência de uma punição que sobreviveu a todos os contextos. O embargo, hoje, simboliza mais o anacronismo das sanções unilaterais do que a força de uma política.
A questão que se impõe, no entanto, é outra: como um país que resistiu à coerção por sessenta anos pode se reinventar sem abrir mão de sua soberania, mas também sem renunciar às liberdades que o desenvolvimento exige.
O pedido da ONU ecoa por costume, mas carrega um sentido novo. Já não é um grito ideológico, e sim um lembrete de que a diplomacia continua sendo o último espaço onde ainda se tenta corrigir, por palavras, as feridas mais antigas do mundo.










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