Genebra — As emissões globais de gases causadores do aquecimento global cairão apenas 10% até 2035, segundo um relatório divulgado pelo secretário-executivo da ONU para Mudança Climática, Simon Stiell. O número revela o abismo entre a ação prometida e a necessidade real: para manter o aumento da temperatura do planeta limitado a 1,5º, meta estabelecida no Acordo de Paris, seria necessária uma redução de 60% no mesmo período.
O cenário exposto pelo relatório sintetiza uma falha estrutural do sistema global. O problema central não é a ausência de intenção, mas a lentidão imposta por um modelo econômico que ainda vê a ação ambiental como custo, e não como vetor de crescimento.
Conforme declarado pelo próprio Simon Stiell, “a humanidade agora está dobrando a curva de emissões para baixo pela primeira vez, embora ainda não rápido o suficiente”. Essa lentidão, que se manifesta como miopia do capital, condena as nações em desenvolvimento a arcar com os custos mais pesados.
O preço desse atraso é elevado e já conhecido. Na véspera do relatório, o secretário-geral da ONU, António Guterres, enfatizou que o mundo fracassou em evitar a ultrapassagem do limite de 1,5º nos próximos anos, alertando que isso “tem consequências arrasadoras, incluindo pontos de não-retorno, seja na Amazônia, na Groenlândia, na Antártida Ocidental ou nos recifes de coral”.
A destruição desses ativos ambientais insubstituíveis representa, para o Brasil e outras nações, a corrosão do patrimônio nacional e a inviabilização de cadeias produtivas inteiras no longo prazo. O dano ambiental é, antes de tudo, o maior risco fiscal.
A reversão do quadro exige a retomada vigorosa da liderança do poder público. A defesa de que a ação climática precisa ser encarada como o “motor do crescimento econômico e empregos do século 21” sinaliza a necessidade de um programa de investimentos estatais maciços em infraestrutura verde, pesquisa e desenvolvimento.
Este gasto produtivo é o imperativo fiscal para impulsionar a reindustrialização e gerar o pleno emprego, realocando o capital para setores produtivos e sustentáveis.
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É neste ponto que a luta contra as desigualdades se torna central. O documento sinaliza positivamente que 73% dos novos planos incluem componentes de adaptação. Essa política é vital, pois reconhece que o risco climático afeta desigualmente as populações e exige planejamento social.
A transição e a adaptação não podem aprofundar as disparidades internas; ao contrário, devem ser políticas focadas em proteger as comunidades mais vulneráveis, garantindo que o desenvolvimento seja, de fato, compartilhado e justo.
Com a iminente COP30 no Brasil, a tarefa dos países é ir além do discurso diplomático e concretizar um novo pacto de financiamento e tecnologia que permita ao Sul Global saltar etapas e liderar a transição. O objetivo é tratar a ecologia como a última e mais urgente fronteira para construir economias soberanas, justas e produtivas.










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