Aquecimento global

Genebra (Suíça) — O ano de 2025 deve encerrar como o segundo ou terceiro mais quente desde o início dos registros, há 176 anos, segundo atualização divulgada nesta quinta-feira (06) pela Organização Meteorológica Mundial. O relatório Estado do Clima Global mostra que a temperatura média do planeta ficou 1,42 °C acima do nível pré-industrial entre janeiro e agosto, mantendo a sequência de recordes que transforma a última década na mais quente já observada.

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O documento confirma que a concentração de gases de efeito estufa e o calor armazenado nos oceanos continuam a aumentar, enquanto o gelo marinho no Ártico e na Antártida recua a níveis mínimos históricos. Mais de 90 % da energia acumulada no sistema terrestre é absorvida pelos oceanos, que registram o maior conteúdo térmico já medido e impulsionam eventos extremos em todo o planeta.

Secas prolongadas, inundações, incêndios e tempestades intensas afetaram milhões de pessoas e pressionam sistemas agrícolas e energéticos. A OMM destaca que o gelo do Ártico atingiu apenas 4,6 milhões de km² em setembro e que o nível do mar quase dobrou de velocidade de elevação desde os anos 1990, alcançando 4,1 mm por ano.

Esses números reforçam que o aquecimento global já ultrapassou o campo da exceção e entrou numa fase estrutural, em que a estabilidade climática do planeta está sendo substituída por um novo equilíbrio, mais quente e imprevisível. O fenômeno tem efeitos em cadeia: pressiona ecossistemas, ameaça a segurança alimentar e redefine fluxos econômicos.

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O custo da energia, o preço dos alimentos e o deslocamento de populações vulneráveis são hoje consequências diretas de um sistema climático fora de controle. A perda de gelo polar e o aquecimento dos oceanos reduzem a capacidade natural de absorver carbono, o que acelera o círculo vicioso do aquecimento e dificulta qualquer tentativa de retorno a níveis anteriores.

O relatório reconhece que, sem cortes imediatos e profundos nas emissões, será inevitável ultrapassar temporariamente o limite de 1,5 °C previsto pelo Acordo de Paris.

A análise também revela o descompasso entre a ciência e a política climática. Enquanto os indicadores se deterioram em ritmo recorde, as negociações internacionais seguem lentas e dependentes de compromissos voluntários.

Aquecimento global

O secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que “cada ano acima de 1,5 graus afetará as economias e aprofundará desigualdades”, e a secretária-geral da OMM, Celeste Saulo, alertou que a meta de contenção “é praticamente impossível sem ultrapassar o limite”.

Essa constatação transforma as conferências do clima em arenas de urgência: o que antes era uma meta preventiva agora se tornou corrida contra danos irreversíveis.

Mesmo diante do cenário crítico, o relatório registra avanços na adaptação. Desde 2015, o número de países com sistemas de alerta precoce multirriscos mais que dobrou, de 56 para 119, e dois terços dos serviços meteorológicos nacionais oferecem algum tipo de monitoramento climático.

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Ainda assim, 40 % dos países continuam sem essas estruturas, justamente onde os impactos são mais severos. A OMM defende que ampliar esses sistemas e integrar dados meteorológicos à política energética e agrícola é essencial para reduzir perdas humanas e econômicas.

O relatório chega às vésperas da COP30, em Belém, e serve de referência científica para as negociações. Mais que um diagnóstico técnico, o texto expressa uma mudança de era: o colapso climático deixou de ser projeção e passou a ser realidade mensurável.

O desafio global agora é político — transformar o conhecimento acumulado em ação coordenada. Enquanto isso não ocorre, 2025 consolida-se como mais um marco na curva ascendente do aquecimento, símbolo de um planeta que já vive as consequências de adiar o que a ciência alertou há décadas.

José Carlos Sanchez Jr.

José Carlos Sanchez Jr.

Jornalista com foco em economia e sociedade, dedica-se a investigar como decisões econômicas, políticas e sociais se entrelaçam na construção de um Estado de bem-estar social no Brasil.

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