São Paulo (SP) — O governador Tarcísio de Freitas rompeu o silêncio nesta segunda-feira (8) e comentou pela primeira vez a candidatura presidencial de Flávio Bolsonaro, anunciada pelo senador na última sexta-feira. Ao confirmar que conversou com o filho do ex-presidente no dia do lançamento, Tarcísio buscou demonstrar alinhamento e lealdade ao bolsonarismo, mas deixou transparecer o desconforto de quem sabe que a nova pretensão presidencial altera o equilíbrio interno da direita e atravessa seu próprio projeto nacional.
Tarcísio afirmou que esteve com Flávio Bolsonaro no dia do anúncio e reforçou o compromisso de apoiar a iniciativa. Declarou respeito e lealdade ao ex-presidente Jair Bolsonaro, destacando que sua relação com o clã permanece “inegociável”.
O gesto, embora cordial, foi visto como uma tentativa de acomodar publicamente uma decisão que não partiu de seu núcleo e que o coloca diante de um cálculo mais complexo para 2026.
O governador classificou a candidatura do senador como um “grande desafio”, mencionando também outros nomes da oposição que já se colocaram na disputa, como Romeu Zema e Ronaldo Caiado.
A enumeração funcionou como sinal de que, diante de um campo fragmentado, a direita ainda não encontrou um eixo sólido que organize seu projeto — um impasse que contrasta com o discurso de unidade frequentemente pregado por seus líderes.
Ao falar sobre o processo eleitoral, Tarcísio insistiu que o foco deveria estar em um “projeto estrutural” de país. Para ele, a multiplicidade de candidaturas na oposição poderá resultar, mais adiante, em convergência no segundo turno.
Projetou ainda uma “discussão de alto nível”, sugerindo que a pluralidade de nomes contribuiria para enriquecer o debate público.
Mas, ao relativizar a avaliação imediata sobre a decisão de Jair Bolsonaro de lançar o próprio filho, afirmando que “ainda é cedo”, Tarcísio deixou implícito que não há consenso sobre se a movimentação fortalece ou fragiliza o bloco.

O comentário, aparentemente protocolar, indica que o governador prefere tempo para observar a recepção da candidatura e seus efeitos na correlação de forças da direita.
O episódio também revela uma tensão silenciosa. Com a inelegibilidade de Jair Bolsonaro, Flávio se projeta como um herdeiro natural do capital político do pai.
Porém, o senador não possui inserção administrativa relevante nem trajetória executiva — vacuidade que força figuras como Tarcísio a se pronunciar com cautela para não romper com a base bolsonarista, mas também sem entregar de imediato o protagonismo dentro do campo conservador. A movimentação parece antecipar uma disputa por direção que o bolsonarismo tentou evitar desde 2022.
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Enquanto isso, Tarcísio enfrenta seu próprio dilema: precisa manter a confiança do bolsonarismo sem ser engolido pela estratégia familiar que, historicamente, subordina aliados às demandas do clã.
Sua fala sobre a importância de um “projeto estrutural”, embora alinhada ao discurso oposicionista, aponta para uma tentativa de se diferenciar como formulador — e não apenas como braço administrativo do antigo presidente.
Na prática, a candidatura de Flávio Bolsonaro redefine o ponto de partida do bloco conservador para 2026.
A eventual pulverização de candidaturas à direita pode fragmentar votos e tornar mais difícil a formação de um pólo competitivo contra um campo progressista que, apesar de seus próprios desafios, conseguiu recompor políticas sociais e retomar investimentos públicos estratégicos.
Nesse cenário, a direita enfrenta o desafio de conciliar interesses pessoais, heranças políticas e projetos de poder incompatíveis. Por ora, Tarcísio sinaliza apoio e aguarda.
Mas o silêncio inicial e a resposta medida desta segunda-feira mostram que, longe de ser apenas um gesto de lealdade, seu posicionamento é também uma tentativa de navegar num tabuleiro em que cada movimento do bolsonarismo reconfigura prioridades, alianças e protagonismos.
A disputa pela liderança da direita está apenas começando — e nenhum dos seus atores parece disposto a ceder espaço.











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