Terras raras

A disputa comercial entre Estados Unidos e China ganhou um novo capítulo em 2025: o controle sobre os chamados minerais de terras raras. Por trás das tarifas e restrições, está a corrida por insumos que movem praticamente toda a economia moderna — de carros elétricos a satélites de defesa. A batalha em torno desses elementos redefine as cadeias globais de suprimento e evidencia o peso político da mineração na geopolítica do século XXI.

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O que são as terras raras e por que são estratégicas

Apesar do nome, as terras raras não são tão escassas na natureza. O termo se refere a um grupo de 17 elementos químicos, como neodímio, lantânio e disprósio, presentes em rochas comuns, mas difíceis de extrair e purificar. O custo ambiental e tecnológico do refino é o que as torna valiosas.

Esses minerais são indispensáveis à indústria moderna: entram na fabricação de turbinas eólicas, motores elétricos, chips, baterias, telas, mísseis e sistemas de comunicação. Em um mundo em transição energética e digital, quem controla o acesso a eles detém poder sobre setores inteiros da economia global.

Como a China construiu seu domínio global

A China transformou as terras raras em uma estratégia de Estado. Desde os anos 1980, o país investiu pesadamente em mineração, tecnologia e refino, até consolidar uma posição quase monopolista. Hoje, responde por cerca de 69% da extração mundial e de 90% da capacidade global de processamento — a etapa mais complexa e rentável da cadeia.

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Essa vantagem permitiu a Pequim usar o setor como instrumento diplomático. Em 2010, o governo chinês restringiu exportações para o Japão após uma crise política. Em 2025, o Ministério do Comércio voltou a adotar controles, exigindo licenças especiais para sete tipos de elementos usados em semicondutores e equipamentos de defesa.

A medida foi interpretada por Washington e pelo G7 como uma retaliação direta à guerra de tarifas e às sanções impostas pelos Estados Unidos.

A dependência dos Estados Unidos

Os Estados Unidos já foram líderes mundiais na produção de terras raras. A mina de Mountain Pass, na Califórnia, chegou a abastecer parte significativa do mercado até os anos 1990, quando as preocupações ambientais e os custos de operação deslocaram o centro da produção para a Ásia.

Hoje, Mountain Pass voltou a funcionar, mas a maior parte do material extraído ainda é enviada à China para refinamento. O país tenta reverter essa dependência por meio de investimentos federais e parcerias com aliados, mas isso pode levar de 10 a 20 anos para desenvolver uma capacidade industrial de processamento comparável à chinesa.

A nova guerra comercial por minerais estratégicos

As restrições chinesas sobre exportações e as tarifas norte-americanas sobre produtos tecnológicos criaram um novo front da guerra comercial.

A disputa não é apenas econômica: envolve segurança nacional, tecnologia de ponta e autonomia industrial. O G7 anunciou, neste mês, uma estratégia conjunta para diversificar fornecedores e apoiar novos projetos de mineração na Austrália, Vietnã e África.

O controle das terras raras passou a ser tratado como tema de defesa. Para os Estados Unidos e seus parceiros, depender de um único país para insumos críticos representa risco estratégico. Já a China argumenta que suas medidas são legítimas e visam proteger recursos naturais e segurança tecnológica.

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O papel do Brasil e os desafios ambientais

O Brasil figura entre os países com grandes reservas de terras raras — cerca de 21 milhões de toneladas, segundo estimativas internacionais. Projetos de exploração vêm sendo retomados no país, e empresas nacionais e estrangeiras buscam estruturar cadeias de processamento locais.

Apesar do potencial, o desafio é equilibrar a oportunidade econômica com os impactos ambientais. A extração e o refino desses minerais produzem resíduos tóxicos e exigem alto consumo de água e energia. Ambientalistas alertam para o risco de repetir erros de países que cresceram sem regulação adequada.

O governo brasileiro estuda formas de agregar valor à produção, investindo em tecnologia e parcerias internacionais, mas o setor ainda é incipiente. O país pode ter papel relevante na diversificação da cadeia global — desde que consiga desenvolver uma indústria limpa e sustentável para explorar suas reservas.

José Carlos Sanchez Jr.

José Carlos Sanchez Jr.

Jornalista com foco em economia e sociedade, dedica-se a investigar como decisões econômicas, políticas e sociais se entrelaçam na construção de um Estado de bem-estar social no Brasil.

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