José Antonio Kast, eleito presidente do Chile com cerca de 58% dos votos válidos contra a esquerdista Jeannette Jara, é um advogado e político conservador que se tornou a principal face da direita radical no país, acumulando carreira de duas décadas entre cargos legislativos e tentativas presidenciais frustradas até sua vitória nesta eleição.
Nascido em 18 de janeiro de 1966 em Santiago, Kast é filho de imigrantes alemães. Seu pai, Michael Kast Schindele, serviu como oficial na Wehrmacht durante a Segunda Guerra Mundial antes de migrar para o Chile, fato que tem sido explorado politicamente por adversários e apoiadores.
Ele estudou Direito na Pontifícia Universidade Católica do Chile e iniciou sua carreira política ainda jovem, envolvido em organizações estudantis de direita, antes de fundar um escritório de advocacia e atuar em empreendimentos familiares nos anos 1990.
A trajetória de Kast como figura política começou formalmente no Legislativo chileno, onde foi deputado federal por quatro mandatos consecutivos, entre 2002 e 2018.
Durante esse período, esteve filiado à União Democrática Independente (UDI), um partido tradicional da direita chilena, que deixou em 2016 para seguir como independente e, posteriormente, criar em 2019 o Partido Republicano, legenda que hoje o levou ao Palácio de La Moneda.
A plataforma de Kast sempre foi marcada por posições conservadoras e nacionalistas. Ao longo da carreira, defendeu uma linha dura sobre segurança pública, imigração e moralidade tradicional.
O político se opõe a direitos como aborto e casamento igualitário e tem histórico de críticas a políticas progressistas, muitas vezes justificando medidas reacionárias em nome da ordem e “valores tradicionais”.

Durante as eleições, Kast concentrou sua campanha em temas como o combate à criminalidade e ao fluxo migratório irregular, propondo respostas severas, como reforço das fronteiras e inspeções mais rigorosas — plataformas que ressoaram entre parcelas da população preocupadas com segurança e soberania, mesmo em um país com níveis de violência relativamente baixos em comparação com a América Latina.
Antes de sua eleição, Kast já havia tentado a Presidência em duas eleições anteriores. Em 2017 ele disputou sem sucesso e, em 2021, avançou ao segundo turno, perdendo para o então candidato de esquerda Gabriel Boric, que se tornou presidente.
A vitória de 2025, portanto, representa não apenas um triunfo pessoal, mas também a consolidação de um movimento político que vinha ganhando espaço há anos, capitalizando temores sociais e uma reação à agenda progressista que marcou o início da década.
Kast também se posiciona como crítico do que chama de “crise de identidade” do Chile pós-protestos massivos de 2019 e da administração Boric, cujo mandato foi marcado por pressões sociais de boa parte da população.
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Essa tática de exteriorizar descontentamentos sociais por meio de um discurso de segurança e ordem contribuiu para seu apelo eleitoral e para a formação de uma base que agora assume o Poder Executivo no país.
No plano internacional, José Antonio Kast é visto como parte de um fenômeno mais amplo de avanço da direita na América Latina, com conexões e afinidades ideológicas com figuras como Donald Trump nos EUA e Javier Milei na Argentina, além de defender uma política econômica liberal combinada com conservadorismo social e medidas rígidas sobre imigração e “lei e ordem”.
A vitória de José Antonio Kast representa a chegada ao poder do projeto político mais à direita no Chile desde o fim da ditadura de Augusto Pinochet, em 1990, e recoloca em disputa consensos democráticos construídos nas últimas décadas.
O novo governo assume sob a promessa de ordem e segurança, mas com uma agenda que tende a tensionar direitos sociais, políticas de inclusão e compromissos históricos do país com a memória, a justiça e os direitos humanos.
Sua ascensão não se explica apenas pela força da extrema-direita, mas também pelas dificuldades dos governos progressistas em transformar mobilização social em respostas concretas para problemas cotidianos, como insegurança, desigualdade e frustração econômica.
Em um cenário de avanço global de lideranças autoritárias, o Chile passa a integrar o eixo latino-americano de governos conservadores, tornando-se mais um campo decisivo da disputa entre democracia social e projetos políticos baseados no medo, no punitivismo e na exclusão.











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