Netanyahu
Foto: Joyce N. Boghosian / Fotos Públicas

Tel Aviv (Israel) — Manifestantes se reuniram neste domingo diante da residência do presidente Isaac Herzog após Benjamin Netanyahu apresentar um pedido formal para que lhe seja concedido um indulto e, assim, suspender os processos de corrupção que enfrenta. A solicitação, feita enquanto o premiê responde a acusações de suborno, fraude e abuso de confiança, ampliou a tensão política e recolocou no centro do debate o uso do Estado para blindar lideranças que acumulam poder há décadas.

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A mobilização ocorreu poucas horas depois da divulgação do pedido e atraiu grupos civis e lideranças da oposição.

Para esses setores, a iniciativa de Netanyahu confirma uma dinâmica que se repete na política israelense: quando investigações avançam sobre figuras do alto escalão, o Executivo busca reorganizar mecanismos institucionais para neutralizar órgãos de controle.

A escolha de recorrer ao indulto reforçou a percepção de que o premiê tenta transformar o aparato estatal em instrumento de defesa pessoal, e não em espaço de responsabilidade pública.

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Líderes oposicionistas pediram que Herzog rejeite imediatamente a solicitação. O chefe da oposição, Yair Lapid, declarou que “não se pode conceder o indulto sem admissão de culpa, expressão de remorso e afastamento imediato da vida política”.

Já Yair Golan, do Partido Democrático, afirmou que “apenas os culpados buscam perdão” e que o país só pode reconstruir alguma estabilidade ao “deter a máquina do ódio e do veneno, interromper o desmantelamento dos sistemas jurídico e democrático”, processo que, segundo ele, começa com a “renúncia e o afastamento da vida pública em Israel” do primeiro-ministro.

Ahmad Tibi, do Hadash-Ta’al, classificou o pedido como uma tentativa explícita de interromper o julgamento, e não como um recurso legal legítimo. Segundo ele, Netanyahu “não está buscando um indulto legal; está buscando encerrar o julgamento”, evitando assumir qualquer responsabilidade pelos crimes apontados pelo Ministério Público.

O Movimento por um Governo de Qualidade alertou que conceder o perdão a um chefe de governo investigado por crimes graves equivaleria a afirmar que a lei não se aplica da mesma forma a todos.

Netanyahu
Foto: Haim Tzach, CEO / Fotos Públicas

A Presidência divulgou nota informando que Herzog analisará o pedido “com sinceridade e responsabilidade”, reconhecendo que se trata de uma medida extraordinária e com impacto institucional significativo.

A decisão, porém, ocorre em um cenário de desgaste prolongado, no qual o governo vem tentando remodelar o sistema judicial para reduzir a autonomia das cortes e enfraquecer procuradores responsáveis por casos de corrupção.

A pressão internacional também entrou no cálculo político. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, enviou uma carta a Herzog pedindo que o indulto fosse concedido e repetiu o apelo durante visita ao país, quando minimizou as acusações afirmando: “Quem se importa com charutos e champanhe?”.

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O gesto foi interpretado como parte de uma articulação mais ampla entre lideranças de extrema direita que enfrentam investigações e buscam deslegitimar sistemas judiciais independentes que possam limitá-las.

Os processos contra Netanyahu incluem o chamado “caso 1000”, que investiga o recebimento de presentes de luxo do empresário Arnon Milchan em troca de favores políticos.

Há ainda o caso 2000, envolvendo negociações com magnatas da mídia, e o caso 4000, que trata de acordos para garantir cobertura positiva no site Walla News enquanto Netanyahu atuava no Ministério das Comunicações entre 2015 e 2017.

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Em todos eles, o padrão é semelhante: a combinação entre poder político e interesses empresariais para moldar o debate público e garantir vantagens pessoais.

O impasse atual não se encerra no pedido de indulto. Ele escancara um Estado que há anos concentra autoridade no Executivo, desgasta o sistema judicial e opera com margens reduzidas de controle democrático.

A decisão de Herzog definirá qual setor — o governo ou as instituições de fiscalização — consegue impor sua força neste momento. O conflito central permanece o mesmo: quem controla os limites do poder em Israel e até onde eles podem ser flexibilizados para proteger quem governa.

Redação IA Dinheiro

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A Redação IA Dinheiro produz reportagens e conteúdos com foco em democracia, desigualdade e políticas públicas.

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