Bogotá (Colômbia) — O governo colombiano repudiou nesta sexta-feira (05) qualquer possibilidade de ação militar dos Estados Unidos em seu território, após novas ameaças da administração Donald Trump. A chancelaria afirmou que operações armadas sem autorização violam diretamente a Carta das Nações Unidas e colocam em risco a estabilidade hemisférica, num gesto que reforça o esforço da Colômbia para frear a normalização de intervenções unilaterais na região. A reação, além de diplomática, também traduz a tentativa de proteger o processo interno de reconstrução institucional e de reafirmar a soberania latino-americana diante de pressões externas.
A ministra das Relações Exteriores, Rosa Villavicencio, declarou que nenhum Estado pode empreender ações militares em outro país sem consentimento explícito, enfatizando que isso constitui violação dos princípios fundamentais que sustentam a paz internacional.
A fala procurou, sem mencionar diretamente os recentes ataques cinéticos dos EUA no Caribe e no Pacífico, enquadrar a escalada das operações extraterritoriais de Washington como um risco jurídico e político de alcance continental.
Villavicencio destacou a “profunda preocupação” do governo com a crescente normalização desse tipo de ofensiva, que já deixou dezenas de vítimas em áreas sensíveis da América Latina.
Segundo ela, tais episódios corroem a ordem legal construída após a Segunda Guerra Mundial e fragilizam mecanismos de cooperação multilateral que, nas últimas décadas, vêm garantindo relativa estabilidade em uma região historicamente marcada pela desigualdade e por disputas geopolíticas assimétricas.
A chancelaria ressaltou ainda que ignorar canais diplomáticos para a solução pacífica de controvérsias não só violenta normas internacionais, mas ameaça o pacto hemisférico de convivência e respeito mútuo.
O comunicado alinhou-se a declarações recentes do presidente Gustavo Petro, que vem defendendo uma política externa latino-americana centrada na soberania, na integração regional e no fortalecimento de instituições multilaterais que protejam países historicamente submetidos à pressão estratégica das grandes potências.
Petro já havia afirmado que a Colômbia enfrenta o narcotráfico “assumindo custos humanos e materiais significativos”, contrariando acusações da administração norte-americana de que o país não estaria colaborando o suficiente.

Ao reforçar essa mensagem, Villavicencio buscou desmontar narrativas que tentam justificar ações militares unilaterais sob o pretexto do combate às drogas, tema frequentemente instrumentalizado pela política externa dos EUA.
No plano interno, o posicionamento também funciona como recado aos setores militares colombianos, historicamente alinhados à agenda de segurança de Washington.
Na véspera, Petro conclamou as Forças Armadas a defenderem a soberania nacional com suas vidas, se necessário, afirmando que qualquer agressão externa despertaria a onça-pintada americana adormecida no coração do povo, metáfora que buscou galvanizar apoio popular e reforçar o sentido de autodeterminação.
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A resposta dura de Bogotá ocorre em um contexto global de crescente tensão e de enfraquecimento de compromissos multilaterais assumidos ao longo do século XX.
À medida que grandes potências demonstram disposição para operar fora dos marcos do direito internacional, países de médio porte, especialmente no Sul Global, veem a necessidade de reforçar alianças regionais para evitar retrocessos que comprometam sua capacidade de desenvolvimento.
A postura colombiana evidencia uma mudança significativa em relação ao alinhamento automático de governos anteriores aos EUA. Ao enfatizar soberania, legalidade e diplomacia, o país sinaliza que políticas de força não podem substituir negociações e que a segurança regional depende de cooperação, não de intimidação.
Em um continente onde desigualdades profundas e instabilidades internas já pressionam Estados frágeis, a escalada de ações militares unilaterais apenas amplia tensões e reduz espaço para agendas de desenvolvimento.
A crise atual coloca à prova o compromisso hemisférico com uma zona de paz e evidencia a urgência de fortalecer instituições capazes de conter impulsos intervencionistas.











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