Montadoras europeias

Bruxelas — As vendas de carros novos na Europa cresceram 10,7% em setembro, lideradas por Alemanha e Reino Unido, segundo a Associação Europeia de Fabricantes de Automóveis (ACEA). O resultado, que elevou para 1,23 milhão o total de veículos registrados na União Europeia, no Reino Unido e na EFTA, reflete o impulso de novos modelos e programas de crédito, mas também a tentativa do setor de se reerguer em meio à transição energética e aos custos industriais elevados.

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A Alemanha, motor industrial da Europa, teve alta de 12,8%, seguida pelo Reino Unido, com 13,7%, e pela Espanha, com 16,4%. Itália e França cresceram menos, 4,2% e 1%, reflexo do consumo interno mais fraco e do custo de financiamento ainda elevado.

As montadoras tradicionais lideraram o avanço: Renault (+15,2%), Stellantis (+11,5%) e Volkswagen (+9,7%). Mas o destaque veio da chinesa BYD, que multiplicou suas vendas por quatro e conquistou 2% do mercado europeu, enquanto a Tesla recuou 10,5%, reduzindo sua fatia a 3,2%.

O dado mostra que o mercado europeu ainda responde bem quando há crédito e novos modelos, mas a recuperação não é estrutural. A indústria enfrenta custos de energia que permanecem entre os mais altos do mundo e uma pressão tecnológica crescente da China, hoje líder global em veículos elétricos e baterias.

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Ao mesmo tempo, os Estados Unidos consolidam políticas agressivas de subsídio industrial, o que acirra a disputa por investimentos e empregos qualificados.

O crescimento de setembro reflete, sobretudo, o avanço dos veículos híbridos e híbridos plug-in, que cresceram 65% em relação a 2024. Os elétricos puros subiram 20% e os híbridos convencionais 15,9%. Juntos, já representam 64% das novas matrículas no bloco.

Mesmo assim, os carros 100% elétricos ainda têm participação tímida, de 16,1% nas vendas acumuladas do ano — abaixo do ritmo necessário para as metas climáticas de 2035, quando a União Europeia planeja banir motores a combustão.

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O desafio europeu é conciliar a transição verde com a preservação de sua base produtiva. A corrida pela eletrificação expõe a fragilidade das cadeias industriais e a dependência de insumos asiáticos, especialmente em semicondutores e baterias.

Fabricar veículos limpos exige uma engenharia financeira e energética que a Europa ainda não domina completamente. E, enquanto o bloco debate tarifas e subsídios, a Ásia amplia a escala de produção.

Para países emergentes como o Brasil, a leitura é estratégica. O desempenho europeu mostra que a reindustrialização verde não virá do mercado sozinho — depende de Estado, crédito e tecnologia.

A Europa só voltou a crescer porque protegeu seus empregos e estimulou inovação; o Brasil, se quiser disputar espaço na transição elétrica, precisa aprender com esse modelo.

O salto de setembro pode ser visto como um sinal de retomada, mas é também um aviso: a indústria automotiva global já entrou em outra marcha. E quem não acelerar agora ficará fora da estrada.

José Carlos Sanchez Jr.

José Carlos Sanchez Jr.

Jornalista com foco em economia e sociedade, dedica-se a investigar como decisões econômicas, políticas e sociais se entrelaçam na construção de um Estado de bem-estar social no Brasil.

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