Mercado de carbono cresce e transforma o Brasil em ativo global

Com novo marco legal, peso em créditos florestais e pressão regulatória internacional, Brasil consolida posição estratégica no mercado de carbono

O Brasil entrou em 2025 em uma posição singular no tabuleiro climático e financeiro. A aprovação do sistema nacional de comércio de emissões, o avanço da B3 na estruturação de registros e a força dos projetos florestais transformam o país em protagonista no mercado de carbono. Ao mesmo tempo, regras internacionais pressionam exportadores a reduzir emissões, ampliando a demanda por ativos de baixo carbono.

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Base legal e infraestrutura em consolidação

O marco decisivo veio no fim de 2024, com a sanção da lei que cria o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE).

Inspirado em modelos de cap-and-trade já adotados na União Europeia e na Califórnia, o SBCE estabelece limites de emissões para setores intensivos em carbono e abre espaço para que empresas negociem créditos excedentes.

Trata-se de uma mudança estrutural: o Brasil deixa de depender apenas do mercado voluntário e passa a contar com uma regulação oficial.

Na esteira dessa evolução regulatória, a B3 avançou na criação de um sistema de registro primário de créditos, que permite acompanhar a origem, titularidade e retirada dos ativos. 

Além disso, parcerias com plataformas como a ACX Brasil prometem aumentar a liquidez e a transparência das transações.

Para investidores internacionais, esse movimento reduz o risco de opacidade e dá maior previsibilidade à negociação de créditos, requisitos fundamentais para consolidar o país como polo global do setor.

Oferta florestal fortalece posição do país

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Se a regulação é o primeiro pilar, a oferta de créditos florestais é o segundo. De acordo com dados da Verra, responsável pelo principal padrão global de certificação, o Brasil concentra um em cada cinco projetos REDD+ ativos no mundo.

Isso significa que o país é responsável por uma fatia significativa dos créditos gerados pela conservação de florestas tropicais, ativo de alto valor na agenda climática internacional.

Essa predominância não é casual. A Amazônia, o Cerrado e áreas de fronteira agrícola oferecem condições únicas para iniciativas de preservação e reflorestamento.

Projetos conduzidos em parceria com comunidades locais e povos indígenas tendem a ganhar ainda mais espaço à medida que padrões mais rígidos de qualidade, como os Core Carbon Principles (CCP), são adotados.

Para empresas que buscam neutralizar emissões, ativos oriundos do Brasil combinam custo competitivo com apelo reputacional, algo raro no mercado global.

O reflexo já se vê na prática: companhias de setores intensivos em carbono, como siderurgia, energia e agroindústria, vinculam estratégias de descarbonização a projetos brasileiros de compensação.

Dessa forma, o país deixa de ser apenas fornecedor de commodities tradicionais e passa a oferecer um produto intangível, mas cada vez mais valorizado — créditos de carbono lastreados em biodiversidade.

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Demanda internacional e preços em transição

Enquanto a oferta brasileira ganha destaque, a demanda global passa por ajustes. O mercado voluntário de carbono registrou queda de 25% em volume transacionado em 2024, reflexo de críticas sobre integridade e transparência.

Apesar disso, as retiradas de créditos — indicador de uso efetivo para neutralização de emissões — permaneceram estáveis desde 2021, sinal de que a demanda real persiste.

A tendência é que essa procura seja reforçada por marcos regulatórios externos. O Mecanismo de Ajuste de Carbono na Fronteira (CBAM), da União Europeia, entrará em vigor em 2026, exigindo comprovação da pegada de carbono em produtos importados.

Para exportadores brasileiros de aço, alumínio e agroindústria, esse requisito pode se transformar em oportunidade se for possível usar créditos nacionais de alta integridade como parte da estratégia de compliance.

O cenário de preços ainda reflete a fase de transição. Em 2024, o valor médio dos créditos caiu cerca de 5,5%, resultado da crise de confiança. Porém, iniciativas para padronizar metodologias e aumentar a transparência já reposicionam o mercado.

Nesse contexto, o Brasil aparece como porto seguro: ativos florestais de baixo custo relativo, com potencial de escala e integridade ambiental reconhecida, capazes de atrair investidores e compradores corporativos.

O mercado de carbono vive, portanto, um momento de reconfiguração. A combinação de regulação doméstica, oferta florestal abundante e pressão internacional cria uma janela estratégica para o Brasil. O país não é mais apenas fornecedor periférico, mas candidato a ativo global nessa nova economia verde.

Na corrida global pela descarbonização, o Brasil começa a transformar suas florestas em ativo estratégico — e talvez em seu maior trunfo econômico do século XXI.

José Carlos Sanchez Jr.

José Carlos Sanchez Jr.

Jornalista e redator especializado em economia, finanças e investimentos, com experiência em cobertura de mercado, políticas públicas e programas sociais. É Administrador de Empresas com MBA em Gestão Financeira, Controladoria e Auditoria pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Autor e fundador do portal IA do Dinheiro.

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