Magalu

As ações da Magazine Luiza (MGLU3) acumulam valorização de 27% em setembro, desempenho que recolocou a varejista no centro das atenções da B3. A disparada foi favorecida pelo recuo dos juros futuros no Brasil, pelo corte de juros nos Estados Unidos e pelo aumento do fluxo estrangeiro para ativos de risco.

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O movimento, contudo, não vem acompanhado de unanimidade entre os analistas. Para casas como XP e Genial, a valorização reflete mais a conjuntura do mercado do que mudanças estruturais nos números da empresa.

Rali no mês

O papel da Magalu viveu uma sequência positiva ao longo de setembro. Só no pregão do dia 15, as ações subiram 7,4%, negociadas na casa de R$ 10,50. Com isso, o acumulado do mês já supera 27%, enquanto o Ibovespa avançou pouco mais de 5% no mesmo período.

O desempenho coloca a empresa entre as maiores altas da Bolsa, ao lado de varejistas como Americanas e do setor de tecnologia, que também são sensíveis ao cenário de crédito.

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O volume de negociações tem reforçado a percepção de interesse renovado do investidor, com dias em que a Magalu figurou entre as cinco ações mais transacionadas da B3.

Parte dessa movimentação é atribuída a investidores estrangeiros, que ampliaram a exposição a ativos brasileiros após o corte de juros do Federal Reserve.

Ambiente externo mais favorável

A conjuntura global ajudou a pavimentar o rali. O Fed reduziu sua taxa básica em 0,25 ponto percentual, para o intervalo entre 4% e 4,25% ao ano, reforçando a percepção de que a política monetária americana entrou em um ciclo de flexibilização. Isso aumentou a liquidez global e impulsionou mercados emergentes, entre eles o Brasil.

No cenário doméstico, o Copom manteve a Selic em 15% ao ano, mas os contratos futuros de juros (DIs) embutem expectativa de cortes mais consistentes a partir de 2026.

Embora ainda distantes, essas projeções são suficientes para favorecer empresas dependentes de crédito, como o varejo. No curto prazo, o simples alívio nas curvas já reduz a percepção de risco e estimula fluxos especulativos para papéis como MGLU3.

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Números da companhia

Apesar da alta recente, os resultados da Magalu mostram um quadro misto. No primeiro trimestre de 2025, a companhia registrou EBITDA ajustado de R$ 759 milhões, com margem de 8,1%, um dos melhores patamares da sua história para o início de ano.

O desempenho foi sustentado pela Luizacred, braço financeiro do grupo, que se beneficiou do aumento de receitas com crédito.

O segundo trimestre, porém, trouxe sinais de alerta. A empresa reportou prejuízo líquido de R$ 24,4 milhões, revertendo lucro de R$ 23,6 milhões no mesmo período de 2024. O lucro líquido ajustado caiu mais de 90% em relação ao ano anterior.

A margem bruta recuou devido a campanhas promocionais agressivas, que exigiram descontos elevados para sustentar as vendas. Esse tipo de estratégia ajuda no volume, mas pressiona a rentabilidade.

Além disso, a concorrência segue como desafio. O avanço de players internacionais, como Amazon e Shopee, aumenta a pressão por preços mais baixos e logística eficiente.

Para competir, o Magalu tem investido em integração de canais e serviços financeiros, mas os resultados ainda não aparecem de forma consistente no balanço.

O que dizem os analistas

A XP Investimentos mantém recomendação neutra para as ações da Magalu, com preço-alvo de R$ 7,50 para o fim de 2025 — bem abaixo da cotação atual.

Em relatório, a casa destacou que a valorização recente foi impulsionada por fatores macroeconômicos e não por melhora estrutural dos fundamentos.

A Genial Investimentos chamou atenção para a “volatilidade atípica” dos papéis. Para a corretora, a falta de fatos relevantes que justifiquem o movimento reforça o caráter especulativo da disparada.

A própria companhia informou não ter conhecimento de eventos que expliquem as oscilações mais fortes de setembro.

Já o BTG Pactual ressaltou que a principal ameaça continua sendo a concorrência estrangeira. Em nota a clientes, analistas do banco destacaram que a expansão de Amazon e Shopee pressiona margens e limita o potencial de recuperação do setor.

O BTG reconhece avanços no modelo multicanal da Magalu, mas avalia que a competição seguirá intensa no médio prazo.

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Hora de comprar ou vender?

A valorização de 27% em setembro recolocou a Magalu entre as estrelas do mercado e reacendeu o debate sobre a atratividade do varejo em meio à oscilação dos juros.

O consenso, no entanto, é que a manutenção da trajetória dependerá de fatores internos: melhorar margens, ampliar rentabilidade e sustentar crescimento diante da concorrência.

Enquanto investidores acompanham de perto o cenário macro, as casas de análise alertam que o verdadeiro teste virá nos próximos trimestres, quando a companhia precisará provar que consegue transformar a euforia de curto prazo em resultados consistentes.

José Carlos Sanchez Jr.

José Carlos Sanchez Jr.

Jornalista com foco em economia e sociedade, dedica-se a investigar como decisões econômicas, políticas e sociais se entrelaçam na construção de um Estado de bem-estar social no Brasil.

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