Kuala Lumpur — A decisão dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump de iniciar imediatamente as negociações sobre tarifas marca o primeiro movimento concreto de reaproximação econômica entre Brasil e Estados Unidos desde o agravamento das barreiras comerciais nos últimos anos. O gesto político, anunciado neste domingo (26) após reunião na Malásia, insere o Brasil novamente no centro das discussões sobre integração produtiva no continente.
A reunião, de cerca de 45 minutos, ocorreu paralelamente à cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean). Segundo o Itamaraty, Lula pediu a suspensão temporária das tarifas aplicadas por Washington enquanto as equipes técnicas discutem novos termos de cooperação. Trump aceitou iniciar as tratativas imediatamente.
A negociação não se limita a uma disputa tributária. Ela simboliza uma tentativa de redefinir a posição do Brasil na política comercial hemisférica, num cenário em que os Estados Unidos buscam conter a influência da Ásia e reaproximar parceiros estratégicos.
Para o governo brasileiro, trata-se de um espaço para reforçar a pauta do desenvolvimento produtivo e reduzir a dependência de mercados específicos.
Fontes do Itamaraty afirmam que as conversas devem se concentrar em setores estratégicos, como aço, etanol e agronegócio. A revisão dessas tarifas poderia aliviar pressões sobre exportadores e ampliar o saldo comercial, num momento em que o país tenta sustentar o crescimento com base em investimentos industriais e exportações de maior valor agregado.
Além da agenda econômica, Lula levou à mesa temas políticos que interferem na relação bilateral. Criticou a aplicação da Lei Magnitsky contra autoridades brasileiras, classificando as sanções como exemplo de excesso jurídico e defesa seletiva de valores democráticos.
O gesto foi interpretado como tentativa de restabelecer limites diplomáticos e afirmar a autonomia das instituições brasileiras diante de Washington.
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O presidente também se ofereceu para mediar o diálogo entre Estados Unidos e Venezuela. A iniciativa reflete a estratégia do governo de reposicionar o Brasil como ator regional de equilíbrio e de resgate do multilateralismo, num contexto em que a América do Sul volta a ser palco de disputas de influência.
A disposição dos dois líderes em retomar a conversa é um sinal de pragmatismo. O Brasil busca recuperar credibilidade como parceiro previsível, enquanto os Estados Unidos veem vantagem em reduzir tensões comerciais num ambiente global fragmentado.
A forma como as negociações evoluírem definirá se o encontro será lembrado como um gesto simbólico ou como o início de uma inflexão na política econômica entre os dois países.










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