Brasília (DF) — O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reuniu na manhã desta quarta-feira (29) ministros e assessores diretos no Palácio da Alvorada para discutir os desdobramentos da Operação Contenção, ação policial que deixou mais de 120 mortos no Rio de Janeiro e provocou reação internacional. O encontro, convocado de forma emergencial, envolveu as pastas da Justiça, Casa Civil, Defesa, Direitos Humanos, Igualdade Racial e Comunicação.
A reunião ocorre em meio a um ambiente de tensão política. O governo estadual reconheceu que a operação extrapolou “limites e competências”, enquanto o governo federal tenta reagir à pressão da ONU e de organizações civis que apontam para o uso desproporcional da força e o caráter racialmente seletivo das incursões policiais no país.
Ricardo Lewandowski, ministro da Justiça, afirmou que não houve solicitação de apoio federal à operação. Rui Costa, da Casa Civil, tratou da transferência de presos ligados ao Comando Vermelho para presídios federais.
Já Macaé Evaristo, ministra de Direitos Humanos, e Anielle Franco, da Igualdade Racial, defenderam respostas imediatas que incluam apuração das mortes e revisão de protocolos de segurança.
O encontro simboliza o esforço de Lula em restabelecer uma coordenação nacional para a segurança pública — área historicamente fragmentada e sob autonomia dos estados.
O Planalto avalia criar um grupo permanente de crise entre União e governos estaduais para evitar operações descontroladas, repetindo movimentos semelhantes após chacinas de Jacarezinho (2021) e Vila Cruzeiro (2022).
Para o governo, a crise no Rio também se tornou um teste político. A cobrança internacional por investigações transparentes e a nota da ONU sobre “racismo sistêmico” colocam o Brasil sob escrutínio diplomático.
O Itamaraty tenta evitar que o episódio se transforme em uma crise de reputação em organismos multilaterais, justamente no momento em que o país se prepara para a COP-30 e busca reafirmar compromissos com direitos humanos.
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Nos bastidores, interlocutores do governo reconhecem que o tema divide a coalizão: parte do Congresso defende o endurecimento das ações policiais, enquanto setores do PT e aliados progressistas veem na escalada da letalidade uma afronta à agenda civilizatória prometida por Lula.
A presença de ministros de diferentes campos ideológicos na reunião reflete a tentativa de equilibrar discurso de segurança com o de direitos.
Ao colocar o tema no centro da mesa presidencial, Lula tenta resgatar uma dimensão federativa perdida: a de que segurança pública é dever comum, não campo de disputa política.
Mais do que administrar uma tragédia, o Planalto enfrenta agora o desafio de reconstruir a autoridade moral do Estado sobre sua própria força armada.










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