Belém (PA) — Em visita ao Assentamento Agroextrativista Ilha Grande, localizado nas margens do Rio Guarapiranga, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a unir o discurso ambiental ao social ao defender que “é preciso financiar as pessoas que moram na floresta”. O encontro, realizado nesta segunda-feira (3), marca o início da agenda presidencial que antecede a COP30 e sinaliza o esforço do governo em apresentar a Amazônia não apenas como patrimônio natural, mas como espaço de vida, trabalho e soberania nacional.
O evento ocorreu em uma ilha de 922 hectares próxima à capital paraense, onde vivem 178 famílias assentadas desde 2006. Ao lado do ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, Lula aproveitou a visita para destacar o papel de Belém como anfitriã da COP30, que será realizada na próxima semana. O presidente disse que a escolha da cidade foi feita para que as mais de 140 delegações estrangeiras possam conhecer de perto a Amazônia e a vida de quem a habita.
“Não adianta falar que a Amazônia é o coração do mundo e que não pode derrubar uma árvore. É preciso vir aqui e perceber que quase 30 milhões de pessoas vivem nesta região, e muitas dependem da floresta”, afirmou.
O discurso, embora dirigido a um público local, foi pensado para um auditório global. Ao defender que países desenvolvidos financiem a preservação florestal por meio do apoio às comunidades tradicionais, Lula retoma uma pauta histórica da diplomacia brasileira — a de que não há sustentabilidade sem justiça social.
A fala ecoa a posição que o governo pretende levar à COP30: a de que os países ricos têm responsabilidade direta no custeio de políticas que mantenham a floresta em pé e assegurem renda a quem vive dela.
Durante a visita, o presidente anunciou novos créditos do Incra e do Pronaf voltados à produção de açaí, cacau e turismo comunitário. Segundo Paulo Teixeira, serão R$ 1,5 bilhão em fomento, além de financiamentos de até R$ 50 mil para famílias assentadas, com juros de 0,5% e 40% de desconto. “Ninguém encontra um dinheiro tão bom por aí”, disse o ministro, ressaltando que o governo já investiu R$ 2,2 bilhões em crédito rural para assentamentos.
O gesto tem alcance maior do que o programa de crédito em si. Ao visitar uma comunidade agroextrativista e associar o discurso ambiental ao fortalecimento da economia local, Lula busca reposicionar o Brasil como liderança do Sul Global e reconstruir o elo entre desenvolvimento e inclusão, central ao projeto político do PT desde os anos 2000. A mensagem é que a transição verde precisa incluir quem vive no território, e não apenas quem o observa de fora.
Belém tornou-se o símbolo desse novo pacto entre floresta e cidade, Estado e comunidade. Entre 2023 e 2025, a região recebeu mais de R$ 4,4 milhões em operações de crédito rural distribuídas em sete ilhas, com outras 110 operações previstas até o fim do ano.
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O governo aposta que experiências como a de Ilha Grande, baseada em turismo sustentável e manejo comunitário, sirvam de vitrine para um modelo de desenvolvimento amazônico que alia renda, conservação e cidadania.
Ao final do evento, Lula reforçou que “é preciso criar mais reservas, legalizar terras indígenas e territórios quilombolas” para garantir dignidade às populações tradicionais.
Em um país que historicamente tratou a Amazônia como fronteira de exploração, o discurso representa uma inflexão política: transformar a floresta em sujeito de políticas públicas, e não em obstáculo ao crescimento. Dessa forma, a COP30 será, para o governo, o palco para reafirmar essa visão — a de que preservar também é governar.

            
            
            
            








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