COP30
Foto: Bruno Peres/Agência Brasil

Belém (PA) — Em um discurso carregado de simbolismo político e urgência moral, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva abriu nesta segunda-feira (10) a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), afirmando que “a mudança do clima já não é ameaça do futuro. É uma tragédia do presente”. Diante de líderes de mais de 190 países, Lula cobrou ações concretas para conter o aquecimento global e destacou o papel do Brasil como articulador de um pacto climático baseado na justiça social e na ciência.

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O presidente iniciou sua fala com uma referência direta aos desastres recentes que atingiram o país e o Caribe, como o tornado no Paraná e o furacão Melissa. “O aumento da temperatura global espalha dor e devastação, especialmente entre as populações mais vulneráveis”, disse.

Em tom crítico, apontou que a crise climática “é também uma crise de desigualdade” e que o planeta “ainda caminha na direção certa, mas na velocidade errada”. A plateia reagiu com aplausos ao trecho em que o presidente afirmou que “mudar pela escolha é o que ainda pode nos salvar da tragédia ditada pela inércia”.

A cerimônia marcou a passagem oficial da presidência da COP para o diplomata brasileiro André Corrêa do Lago, que sucedeu o azerbaijano Mukhtar Babayev. O evento, realizado na capital paraense, foi aberto com manifestações culturais e apresentações de Fafá de Belém e da ministra Margareth Menezes, simbolizando o entrelaçamento entre cultura, Amazônia e política ambiental — uma combinação que o governo Lula tem explorado como marca de sua diplomacia climática.

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Em seu discurso, Lula classificou a COP30 como “a COP da verdade”, apontando que o negacionismo climático é “a nova face do obscurantismo” e um dos maiores obstáculos à cooperação internacional.

“Os obscurantistas rejeitam a ciência, atacam as instituições e manipulam algoritmos para espalhar o medo”, afirmou.

O presidente reforçou que a luta contra as mudanças climáticas depende de “recolocar a ciência e a solidariedade no centro da governança global”.

A fala teve clara dimensão política interna e internacional. Para o governo brasileiro, sediar a COP30 em Belém é uma reafirmação do papel do Brasil como líder do Sul Global e mediador entre desenvolvimento e sustentabilidade.

COP30
Foto: Bruno Peres/Agência Brasil

Lula se valeu dessa condição para propor a criação de um Conselho do Clima, ligado à Assembleia Geral da ONU, que garanta que os compromissos assumidos sejam efetivamente cumpridos.

“Palavras sem ação são promessas vazias. Precisamos de uma governança global capaz de transformar discursos em resultados”, declarou.

O presidente também apresentou o “Chamado de Belém pelo Clima”, documento que sintetiza três frentes de ação: o cumprimento das metas de emissões nacionais, o fortalecimento do financiamento climático e a ampliação do acesso a tecnologias limpas para países em desenvolvimento.

Ao defender que “homens, mulheres, jovens e idosos estejam no centro da agenda climática”, Lula reforçou o caráter social do desafio ambiental: a luta contra o aquecimento global é, antes de tudo, uma luta por dignidade.

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A escolha de Belém como sede da conferência reforçou o simbolismo da fala presidencial. Lula destacou a Amazônia não como “uma entidade abstrata”, mas como “a casa de 50 milhões de pessoas e 400 povos indígenas”, lembrando que o bioma é vital tanto para o clima quanto para a economia mundial.

“Quando deixarem Belém, o povo da cidade permanecerá com os investimentos feitos para recebê-los. E o mundo poderá, enfim, conhecer a realidade da Amazônia”, disse, apontando o legado estrutural e político da COP30 para o Pará e o país.

O discurso recoloca o Brasil no centro do debate climático global com uma visão que alia crescimento, inclusão e responsabilidade ambiental.

Ao insistir que “a emergência climática é também uma crise de desigualdade”, o presidente faz da COP30 não apenas um evento diplomático, mas uma afirmação de projeto nacional: o de um país que acredita que desenvolvimento e justiça social só existem quando a vida — humana e ambiental — está no centro da política.

José Carlos Sanchez Jr.

José Carlos Sanchez Jr.

Jornalista com foco em economia e sociedade, dedica-se a investigar como decisões econômicas, políticas e sociais se entrelaçam na construção de um Estado de bem-estar social no Brasil.

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