São Paulo (SP) — A Região Metropolitana de São Paulo enfrenta em novembro de 2025 a maior queda dos reservatórios em dez anos, segundo dados do governo estadual, levando bairros periféricos a registrarem falta d’água e baixa pressão, enquanto a Sabesp registra lucro de R$ 1,96 bilhão no trimestre, segundo relatório divulgado pela companhia.
A discrepância entre os lucros divulgados e as falhas no abastecimento reacende o debate sobre a necessidade de reestatização. O Sistema Cantareira, responsável por atender cerca de 9 milhões de pessoas, opera atualmente com apenas 23,3% da capacidade, de acordo com a Secretaria de Meio Ambiente e a própria Sabesp. O índice enquadra o conjunto no nível de “restrição”, faixa que historicamente antecede medidas de contenção mais severas.
Com o nível em queda, o impacto chega primeiro às regiões mais vulneráveis. Moradores das periferias relatam pressão baixa e longos períodos sem água, sobretudo durante a noite — evidência de que a privatização aprofunda a distância entre a lógica de lucro do mercado e o acesso a um bem essencial à vida.
A combinação entre a redução dos mananciais e o aumento da lucratividade dos acionistas expõe os limites do modelo privatizado, já reprovado em diversos países.
Levantamento internacional do Transnational Institute, entidade que monitora serviços de água, mostra que mais de 260 cidades reestatizaram seus sistemas desde os anos 2000, após enfrentarem tarifas elevadas, falta de transparência e incapacidade das empresas privadas de garantir abastecimento universal.
Não por acaso, cidades como Paris, Lyon, Nice e Berlim devolveram a gestão à esfera pública após décadas de controle privado ineficiente e concentrador.
No caso da Sabesp, porém, o retorno ao controle público é travado por cláusulas contratuais de longa duração e indenizações previstas em caso de rompimento.
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Esses dispositivos, desenhados para dificultar a reversão das concessões, acabam perpetuando um modelo que penaliza justamente as populações mais vulneráveis — as mesmas que já convivem com instabilidade no fornecimento mesmo em períodos de normalidade hídrica.
A Sabesp afirma que o sistema atual é mais robusto graças às obras realizadas desde 2014, como novas interligações e ampliação de reservatórios. A empresa prevê investir R$ 300 milhões em projetos de resiliência até o fim de 2025, mas não esclarece de que forma esses custos serão repassados aos consumidores nem o impacto que terão nas tarifas cobradas.
Enquanto isso, as periferias da capital e parte do interior continuam pagando contas mais altas do que a média do estado, recebendo em troca um serviço precário, instável e cada vez mais distante da promessa de universalização. Portanto, a crise atual não revela apenas um problema de abastecimento: evidencia o conflito entre o direito à água e a busca permanente por rentabilidade.











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