Brasília (DF) — O ministro Alexandre de Moraes determinou nesta segunda-feira (1º) que o general Augusto Heleno seja submetido a uma perícia médica da Polícia Federal em até 15 dias. O ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, condenado a 21 anos na ação penal da trama golpista, está preso desde 25 de novembro no Comando Militar do Planalto. A medida foi tomada após a defesa apresentar versões conflitantes sobre um diagnóstico de Alzheimer, argumento utilizado para solicitar prisão domiciliar humanitária.
A contradição surgiu quando Heleno declarou, no exame de corpo de delito, que apresenta sintomas desde 2018, antes mesmo de assumir o comando do Gabinete de Segurança Institucional no início do governo Bolsonaro.
A defesa, no entanto, afirmou que o diagnóstico só teria sido formalizado em 2025. Moraes apontou que nenhuma limitação cognitiva foi registrada durante todo o processo judicial, o que motivou o pedido de esclarecimentos feito no sábado (29).
Diante da divergência, o ministro ordenou avaliação clínica completa, com exames laboratoriais e, se necessário, exames de imagem.
A disputa sobre a saúde do general ultrapassa a questão médica. O uso repentino de um diagnóstico nunca mencionado antes traz à tona um movimento já observado entre militares e ex-assessores de Bolsonaro: tentar suavizar o peso das condenações com pedidos humanitários apresentados apenas depois do colapso da estratégia golpista.
No caso de Heleno, a mudança nas datas funciona como tentativa de reposicionar o réu — de articulador político para figura fragilizada — em um momento em que a responsabilização alcança setores das Forças Armadas historicamente blindados de controle civil.
Nesse contexto, a perícia ordenada por Moraes não responde apenas à dúvida levantada pela defesa, mas ao esforço de conter uma reescrita tardia dos fatos.
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A concessão de benefícios sem lastro médico sólido permitiria ao núcleo militar do bolsonarismo transformar contradições em narrativa de perseguição, enfraquecendo a própria autoridade do STF sobre os casos ligados ao 8 de janeiro.
Ao exigir rigor pericial, Moraes aponta limites claros para manobras que tentam substituir responsabilidade política por fragilidade clínica.
A situação também evidencia o esforço da Corte para enfrentar a crise institucional deixada pela participação de militares na articulação golpista.
Heleno foi uma das principais vozes do governo Bolsonaro contra o resultado das urnas e atuou diretamente no ambiente político que alimentou a tentativa de ruptura institucional.
Sua prisão representa um marco inédito: pela primeira vez desde a redemocratização, um general de quatro estrelas cumpre pena por conspirar contra a ordem democrática.
Para o STF, o laudo da PF será determinante para decidir se há condições para prisão domiciliar. Até lá, Heleno permanece sob custódia no Comando Militar do Planalto, e Moraes não estabeleceu prazo para avaliação final.
A defesa insiste na narrativa de saúde fragilizada, mas a controvérsia sobre datas e omissões reforça a percepção de que o caso extrapola limites individuais e se insere na disputa maior sobre até onde vai a responsabilização do núcleo golpista.











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