Banco Master
Foto: Rosinei Coutinho/STF

Nas últimas semanas, o nome do Banco Master passou a circular com força no debate político ao ser associado a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), contratos advocatícios milionários, viagens em aviões particulares e relações pessoais no entorno do poder. A combinação desses elementos, explorada de forma fragmentada, produziu uma narrativa de suspeição que mistura fatos comprovados com conclusões que ainda não encontram respaldo em provas.

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Vale destacar que o Banco Master é alvo de uma investigação que envolve suspeitas de fraudes bilionárias no sistema financeiro, incluindo a venda de carteiras de crédito sem lastro e operações irregulares com o Banco de Brasília (BRB).

Executivos do banco foram presos, e o controlador da instituição, Daniel Vorcaro, responde a processos decorrentes dessas investigações.

Recentemente, o caso ganhou um elemento que incendiou a imprensa. Documentos apreendidos pela Polícia Federal durante a Operação Compliance Zero indicam que o escritório de advocacia de Viviane Barci de Moraes, esposa do ministro Alexandre de Moraes, mantinha contrato de consultoria e assessoria jurídica com o Banco Master.

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O acordo previa remuneração mensal em torno de R$ 3,6 milhões, chegando a R$ 129 milhões ao longo de três anos, embora não tenha sido integralmente executado em razão da liquidação extrajudicial da instituição pelo Banco Central.

Além disso, outro fato que passou a integrar o mesmo enredo envolve o ministro Dias Toffoli. Em novembro, ele viajou a Lima, no Peru, em um avião particular pertencente ao empresário Luiz Oswaldo Pastore, personagem com histórico de atuação política como suplente de senador e financiador de campanhas eleitorais.

No mesmo voo estavam pessoas com vínculos profissionais ou pessoais com investigados no caso do Banco Master. A viagem ocorreu às vésperas de Toffoli ser sorteado relator de um recurso apresentado pela defesa de Vorcaro no STF.

Banco Master
Foto: Ricardo Stuckert

Esses elementos, apresentados em sequência, criam uma narrativa de proximidade que chama atenção e desperta desconfiança. Contrato, investigação, viagem, relações políticas: tudo isso existe e é verificável. O problema começa quando essa sucessão de fatos passa a ser lida como evidência de algo que não foi demonstrado.

Até agora, não há registro de decisão do ministro Alexandre de Moraes que tenha beneficiado o Banco Master ou seus controladores. Não há despacho, voto ou ato concreto que ligue o contrato firmado por sua esposa a qualquer atuação jurisdicional no âmbito do Supremo.

Da mesma forma, no caso de Dias Toffoli, embora a coincidência temporal entre a viagem e decisões posteriores seja frequentemente mencionada, não foi apresentada prova de que relações pessoais tenham influenciado o conteúdo de seus julgamentos.

É nesse intervalo — entre o que é real e o que se sugere — que a controvérsia ganha contornos políticos. A estratégia é conhecida: fatos verdadeiros são colocados lado a lado até que, pela repetição e pela associação, produzam a impressão de causalidade. A proximidade passa a funcionar como substituta da prova.

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Esse tipo de construção tem sido amplamente mobilizado por setores da extrema direita em confronto direto com o STF. Diante da dificuldade de reverter decisões no campo jurídico, o ataque se desloca para o plano da suspeição pessoal.

Ministros deixam de ser questionados pelo conteúdo de seus votos e passam a ser alvos por suas relações familiares, sociais ou circunstanciais.

O efeito buscado é claro. Ao fragilizar a imagem individual dos magistrados, tenta-se minar a legitimidade das decisões da Corte como um todo.

O debate sobre legalidade cede espaço à insinuação moral, e o Judiciário passa a ser apresentado como capturado por interesses privados, mesmo quando não há demonstração de que esses interesses tenham interferido nos julgamentos.

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Isso não significa que relações pessoais e profissionais devam ser tratadas como irrelevantes. Em instituições de poder, especialmente no topo do sistema de Justiça, transparência e prudência são exigências permanentes.

Contratos de familiares, convívios políticos e deslocamentos em aeronaves privadas são temas que precisam ser conhecidos e debatidos. Porém, o limite está em transformar esses dados em acusações sem base factual.

No caso do Banco Master, o que se tem até agora é um conjunto de fatos que merece escrutínio, mas que não autoriza conclusões sobre interferência indevida de ministros do STF. Confundir conflito potencial com ilegalidade comprovada não apenas distorce o debate público, como serve a uma estratégia política de desgaste institucional.

Em outras palavras, o episódio revela mais sobre o ambiente de polarização e confronto em torno do Supremo do que sobre eventuais desvios de conduta de seus integrantes.

Separar fatos de insinuações não é um gesto de complacência, mas uma condição mínima para que o debate público não se transforme em um campo permanente de suspeição — no qual decisões judiciais deixam de ser discutidas pelo que são e passam a ser atacadas pelo que se tenta sugerir que sejam.

José Carlos Sanchez Jr.

José Carlos Sanchez Jr.

Jornalista e editor-chefe da IA Dinheiro. Produz reportagens e conteúdos com foco em economia, democracia, desigualdade e políticas públicas.

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