Juros do cartão de crédito continuam sendo o principal vilão do endividamento no Brasil

Taxas do rotativo ultrapassam 449% ao ano e revelam entraves estruturais e culturais do sistema financeiro brasileiro

Os juros do rotativo do cartão de crédito no Brasil atingiram 449,9% ao ano em maio de 2025, segundo o Banco Central, colocando o país entre os líderes globais do crédito mais caro. No primeiro trimestre do ano, os cartões movimentaram R$ 721,1 bilhões, de acordo com a Abecs. O contraste entre uso massivo e taxas exorbitantes transformou o cartão no principal vilão do endividamento das famílias brasileiras.

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O peso dos juros do cartão de crédito no bolso do brasileiro

Os juros do cartão de crédito, conhecido como rotativo do cartão, é acionado quando o consumidor paga apenas o valor mínimo da fatura. Em tese, seria um crédito emergencial de curtíssimo prazo, usado apenas em situações pontuais.

Na prática, porém, milhões de brasileiros recorrem a esse crédito como financiamento recorrente, acumulando dívidas impagáveis. Segundo a Confederação Nacional do Comércio (CNC), em junho de 2025, 83,3% das famílias endividadas tinham dívidas no cartão de crédito.

Esse dado mostra que a facilidade do crédito, aliada aos juros elevados criam um ciclo de dependência vicioso difícil de sair. 

Mercado concentrado, concorrência limitada

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Uma das explicações para os juros tão altos está na concentração bancária. Poucos bancos controlam a maior parte do mercado de cartões, o que reduz a concorrência e permite manter margens elevadas.

Enquanto fintechs e bancos digitais tentam quebrar esse domínio oferecendo cartões sem anuidade e crédito mais barato, a fatia de mercado das grandes instituições ainda é majoritária.

Essa concentração também se reflete em práticas pouco transparentes. Muitos consumidores não entendem o funcionamento do rotativo ou as alternativas de parcelamento oferecidas, caindo em uma armadilha que favorece o lucro dos emissores.

O impacto da inadimplência

Outro fator estrutural que encarece o rotativo do cartão é a inadimplência elevada no país. De acordo com o Mapa da Inadimplência da Serasa, em julho de 2025 havia 78,2 milhões de consumidores negativados — e o cartão de crédito aparece entre as principais dívidas não pagas.

Esse fato eleva o risco de calote, e por consequência, as instituições repassam esse risco para as taxas de juros. É um círculo vicioso onde os juros altos elevam a inadimplência, e a inadimplência justifica juros ainda mais altos. Para o consumidor, o resultado é um crédito proibitivo, usado muitas vezes como último recurso.

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Spread bancário e impostos

Soma-se a esses fatores o spread bancário — diferença entre o que os bancos pagam para captar recursos e o que cobram ao emprestar.

No Brasil, ele está entre um dos mais altos do mundo, resultado da carga tributária elevada, custos de regulação, pouca competição e baixa eficiência do sistema judicial em recuperar dívidas.

O resultado é um ambiente em que o crédito se torna caro em todas as modalidades, mas no cartão, que já é considerado de maior risco, o custo explode.

Há também um fator cultural que contribui para os juros altos. O brasileiro aprendeu a consumir parcelando, seja no crediário das lojas ou no próprio cartão. Essa prática mantém a demanda por crédito sempre alta, mesmo em cenários de juros elevados.

O parcelamento “sem juros” oferecido pelo comércio é, na prática, embutido nos preços e sustenta o modelo de dependência do cartão como principal meio de consumo.

Tentativas de regulação e limites legais

Nos últimos anos, o Congresso Nacional e o Banco Central discutiram limitar os juros do rotativo. A proposta de estabelecer um teto foi bem recebida por entidades de defesa do consumidor, mas enfrentou resistência de bancos e bandeiras de cartão, que alegam que a medida poderia reduzir a oferta de crédito.

Como alternativa, o Banco Central busca trazer outras novidades para o setor, como o  Pix Parcelado, cuja regulamentação está prevista para 2025. O modelo permitirá que o consumidor parcele suas compras via Pix, enquanto o lojista recebe o valor integral na hora. A ideia é reduzir a dependência do cartão e criar uma alternativa mais barata e inclusiva.

É importante destacar que, apesar do avanço, o Pix Parcelado ainda terá juros e pode reproduzir, em menor escala, os problemas do cartão se não houver regras claras de transparência.

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O que pode mudar no futuro

Apesar do cenário desafiador, algumas tendências podem ajudar a reduzir os juros:

  • Crescimento das fintechs, oferecendo alternativas mais baratas;
  • Digitalização do sistema financeiro, com maior competição no crédito;
  • Educação financeira, que ainda é um gargalo;
  • Regulação mais dura sobre taxas abusivas e maior clareza para o consumidor.

A combinação desses fatores pode, gradualmente, tirar o Brasil do topo do ranking mundial dos juros de cartão. Mas, até lá, a recomendação é evitar o rotativo a todo custo e buscar alternativas mais baratas de crédito.

José Carlos Sanchez Jr.

José Carlos Sanchez Jr.

Jornalista e redator especializado em economia, finanças e investimentos, com experiência em cobertura de mercado, políticas públicas e programas sociais. É Administrador de Empresas com MBA em Gestão Financeira, Controladoria e Auditoria pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Autor e fundador do portal IA do Dinheiro, dedica-se a produzir notícias e análises acessíveis e confiáveis sobre o cenário econômico brasileiro.

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