Nova Délhi (Índia) — A estatal Indian Oil Corporation (IOC), maior refinadora da Índia, abriu nesta quinta-feira (30) uma licitação para a compra de 24 milhões de barris de petróleo das Américas, com entregas previstas entre janeiro e março de 2026. O movimento marca uma reorientação estratégica do país no abastecimento de energia, após o endurecimento das sanções norte-americanas contra a Rússia na última semana.
Segundo documento obtido pela agência Reuters, o edital inclui tanto petróleo leve de baixo teor de enxofre quanto grades mais pesadas, indicando que a refinaria busca diversificar o tipo de carga e avaliar o interesse de fornecedores do continente americano. A licitação será encerrada na sexta-feira (31), e as entregas devem ocorrer no primeiro trimestre de 2026.
A medida reflete uma mudança cautelosa na política de importação da Índia, que desde 2022 tornou-se o principal destino do petróleo russo transportado por mar. O fluxo, que chegou a representar mais de 40% das importações indianas, sofreu redução abrupta depois que Washington sancionou as duas maiores produtoras russas, Rosneft e Lukoil, restringindo acesso a fretes e seguros internacionais.
Fontes do setor afirmam que a IOC está testando o mercado americano como alternativa imediata, enquanto outras refinarias indianas recorrem ao mercado à vista em busca de novos fornecedores.
Paralelamente, a estatal comprou nesta semana dois milhões de barris de petróleo da África Ocidental, em acordo com a ExxonMobil — volumes provenientes de Angola e Nigéria.
A busca por barris das Américas amplia o campo de oportunidades para produtores latino-americanos. Brasil, México, Colômbia e Guiana têm tipos de petróleo compatíveis com a demanda indiana, e o recente fortalecimento logístico entre portos do Atlântico Sul pode reduzir o custo do transporte em relação a fornecedores do Golfo Pérsico.
Para os países da região, o movimento representa uma chance de ocupar parte do espaço deixado pela Rússia nas exportações asiáticas.
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A Índia, terceira maior importadora de petróleo do mundo, depende de fontes externas para cerca de 85% de seu consumo. Em um cenário de tensão geopolítica e volatilidade cambial, o redirecionamento das compras também busca proteger a economia local da alta do Brent, que oscila próximo de US$ 88 por barril.
O gesto da IOC indica mais do que um ajuste técnico: é um sinal de reposicionamento diplomático. Ao diversificar fornecedores, a Índia tenta preservar sua autonomia energética sem romper com Moscou, mas também sem desafiar frontalmente as sanções de Washington. O equilíbrio, mais do que o barril, é o produto mais valioso nesse mercado.










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