O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que não é possível colocar as contas públicas em ordem sem garantir crescimento econômico sustentado. Em evento promovido pelo Itaú BBA, em São Paulo, o ministro ressaltou que a defesa de estímulo à atividade não deve ser confundida com tolerância à inflação, e defendeu que o ajuste fiscal seja conduzido de forma “justa e inteligente”.
Ajuste fiscal sem recessão
Haddad destacou que o debate sobre ajuste fiscal precisa considerar o impacto social e a necessidade de preservar investimentos em áreas essenciais.
Segundo ele, o Brasil manteve, na última década, uma média de gasto público em torno de 19,5% do Produto Interno Bruto (PIB), desconsiderando os efeitos da pandemia. Atualmente, esse percentual está abaixo de 19%.
O ministro afirmou que a redução ocorreu a partir do corte de despesas não essenciais durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, e não às custas de áreas como saúde e educação. Para ele, essa distinção é fundamental para que a política fiscal não comprometa a capacidade de crescimento do país nem acentue desigualdades.
Inflação segue como prioridade
Em resposta a críticas de que a ênfase no crescimento poderia representar afrouxamento da política de combate à inflação, Haddad foi enfático ao negar. “Isso não pode ser confundido com qualquer leniência em relação à inflação”, disse.
O ministro reforçou que a responsabilidade fiscal deve caminhar junto com a estabilidade de preços, uma vez que a perda do poder de compra atinge principalmente as famílias de menor renda.
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Impacto das tarifas norte-americanas
Haddad também comentou o impacto do chamado “tarifaço” dos Estados Unidos, que desde agosto impôs sobretaxa de 50% sobre uma série de produtos brasileiros.
O ministro minimizou os efeitos imediatos da medida, mas admitiu que a situação exige diálogo. “Quero acreditar que, em algum momento, haverá um debate racional com os Estados Unidos”, afirmou.
A taxação sobre bens como caminhões e medicamentos tem gerado preocupação em setores da indústria, mas o governo brasileiro aposta em negociações diplomáticas e na abertura de novos mercados para mitigar as perdas.
Relações políticas em pano de fundo
As tarifas ampliaram as tensões entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente norte-americano Donald Trump.
Os dois líderes devem se reunir nos próximos meses, após atritos marcados por acusações da Casa Branca de perseguição política no Brasil contra o ex-presidente Jair Bolsonaro.
As declarações de Haddad reforçam a estratégia do governo de equilibrar responsabilidade fiscal e crescimento, em um ambiente desafiador de juros elevados e pressões externas.
Com a Selic mantida em 15% pelo Banco Central, o espaço para expansão da atividade é limitado, e a política econômica segue dependente do avanço de negociações internacionais e da capacidade de estimular investimento produtivo sem ampliar o déficit público.