Bolsa Família
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Brasília (DF) — Doze anos depois, a geração que cresceu sob o Bolsa Família comprova a força de uma política pública que mudou o destino de milhões de famílias brasileiras. Segundo pesquisa do Instituto Mobilidade e Desenvolvimento Social (Imds), 48,9% dos jovens beneficiários deixaram o Cadastro Único entre 2012 e 2024 — um sinal concreto de mobilidade social e de que o programa cumpriu sua função essencial: oferecer estabilidade para que as famílias pudessem caminhar com mais autonomia.

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O estudo acompanhou 15,5 milhões de pessoas que, em 2012, tinham entre 7 e 16 anos e eram dependentes do Bolsa Família. O objetivo foi entender os fatores que explicam quem conseguiu sair da rede de proteção e quem ainda depende dela.

A fotografia inicial revela o tamanho do desafio: naquele ano, 73,4% eram jovens pretos e pardos, 14,3% viviam em moradias com materiais frágeis e menos da metade tinha acesso à rede de esgoto. Embora 96% estivessem na escola, 27,4% apresentavam defasagem idade-série — um retrato da desigualdade que o programa buscava enfrentar.

Essas condições ajudam a explicar os caminhos distintos que essa geração percorreu. Para muitos, o Bolsa Família funcionou como trampolim de ascensão; para outros, continuou sendo o principal suporte diante da falta de oportunidades.

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Entre os que conseguiram se desligar, fatores como alfabetização precoce, acesso ao emprego formal e responsáveis com ensino médio ou superior foram determinantes. Famílias chefiadas por mulheres escolarizadas, em especial, tiveram probabilidade mais alta de sair do programa — um dado que reforça a importância da educação como vetor de transformação.

Já entre os que permaneceram no Cadastro Único, o que aparece é a face persistente da vulnerabilidade estrutural. Jovens pretos e pardos continuam com menor chance de ascender, mesmo quando há melhoria de renda.

Condições precárias de moradia, baixa escolaridade dos responsáveis e tempo prolongado de exposição ao programa são os principais fatores de permanência. Não se trata de dependência, mas de desigualdade de partida.

O coordenador do estudo, Marcos Mendes, resume o dilema: “o Bolsa Família cumpre sua função de reduzir a pobreza, mas o Brasil ainda precisa garantir que quem sai não volte. Isso só acontece quando a rede de proteção se conecta a políticas de educação, emprego e moradia”.

A afirmação traduz a leitura de que o programa é base, não teto — um mecanismo de segurança social em um país que ainda não universalizou o direito a oportunidades iguais.

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Nesse sentido, os resultados devem ser lidos como um avanço social expressivo, mas também como alerta. A permanência de um terço dos jovens na base do programa mostra que o país ainda convive com bolsões de pobreza e exclusão racial que não se resolvem apenas com transferência de renda.

O desafio é articular o Bolsa Família com políticas de desenvolvimento local e qualificação profissional que sustentem o salto de renda de forma duradoura.

Nos últimos 20 anos, o programa foi responsável por retirar o Brasil duas vezes do Mapa da Fome e consolidar um sistema de proteção social reconhecido internacionalmente.

O fato de metade da geração acompanhada pelo Imds ter deixado o Cadastro Único é evidência de que o modelo funciona quando há estabilidade institucional e continuidade das políticas públicas.

O Brasil de 2024, portanto, carrega duas histórias que se cruzam: a de quem subiu um degrau com o apoio do Estado e a de quem ainda precisa dele para não cair. O Bolsa Família segue sendo a ponte entre esses dois Brasis — não um limite, mas um alicerce de reconstrução social.

José Carlos Sanchez Jr.

José Carlos Sanchez Jr.

Jornalista com foco em economia e sociedade, dedica-se a investigar como decisões econômicas, políticas e sociais se entrelaçam na construção de um Estado de bem-estar social no Brasil.

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