Furacão Melissa

Kingston (Jamaica) — O furacão Melissa, com ventos de até 280 quilômetros por hora, deixou um rastro de destruição no Caribe, atingindo Jamaica, Cuba, Haiti, República Dominicana e Bahamas. Considerado um dos mais intensos do século, o fenômeno provocou inundações generalizadas, deslizamentos de terra e dezenas de mortes, além de comprometer a infraestrutura básica de energia, transporte e comunicação em várias ilhas.

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Equipes humanitárias da ONU e parceiros regionais já operam em regime de emergência. O secretário-geral António Guterres descreveu Melissa como “uma das tempestades mais destrutivas já registradas” e afirmou que salvar vidas e garantir acesso humanitário são as prioridades imediatas.

O Programa Mundial de Alimentos coordena a logística marítima a partir de Barbados, enquanto o Unicef distribui kits de nutrição e higiene para crianças e famílias deslocadas.

Na Jamaica, onde os ventos atingiram a costa com força total, o coordenador da ONU Dennis Zulu classificou o cenário como “devastação sem precedentes”. Pelo menos um milhão de pessoas foram afetadas direta ou indiretamente.

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No Haiti, mais de 3,6 mil pessoas já estão em abrigos temporários, enquanto Cuba realiza evacuações em massa para retirar meio milhão de moradores de áreas de risco.

Mas a tragédia vai além do impacto imediato. O furacão Melissa simboliza o novo ciclo de vulnerabilidade climática no Caribe, onde economias pequenas, dependentes do turismo e da agricultura, enfrentam choques cada vez mais frequentes e intensos. O que antes era uma crise episódica tornou-se um padrão de colapso recorrente.

O custo da reconstrução tende a ultrapassar a capacidade fiscal da maioria dos países afetados. O Fundo Central de Resposta a Emergências da ONU liberou US$ 8 milhões para Cuba e Haiti, mas o montante cobre apenas uma fração das perdas estimadas.

Estudos regionais indicam que eventos extremos já consomem entre 5% e 10% do PIB anual das pequenas economias insulares, comprometendo investimentos em educação, infraestrutura e saúde.

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Enquanto o planeta se aquece, os furacões ganham intensidade. O Melissa surge poucos meses após o recorde de temperatura do Atlântico Norte e reforça o alerta de que o custo da inação climática é medido em vidas e colapsos econômicos. Em países que contribuíram pouco para as emissões globais, o desequilíbrio é moral tanto quanto ambiental.

A ONU apelou para que a solidariedade internacional “seja tão forte quanto os ventos de destruição”. O chamado resume um dilema contemporâneo: a crise climática não é apenas um desafio meteorológico, mas o retrato da desigualdade global.

E no Caribe, onde o turismo sustentou esperanças e o mar moldou a identidade, as águas agora cobram a conta de um mundo que adiou por tempo demais o enfrentamento do clima.

José Carlos Sanchez Jr.

José Carlos Sanchez Jr.

Jornalista com foco em economia e sociedade, dedica-se a investigar como decisões econômicas, políticas e sociais se entrelaçam na construção de um Estado de bem-estar social no Brasil.

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