Confundir fluxo de caixa com DRE

Todo mês é a mesma cena: o empreendedor abre o extrato da conta, vê dinheiro entrando, fatura alto, paga os boletos e até se permite um jantar melhor. Olhando de fora, parece que o negócio está indo bem. Mas quando o contador entrega a DRE e a realidade salta da planilha, vem o baque: prejuízo no papel. “Mas como assim? Tá tudo entrando!”, ele diz. A resposta é simples — e brutal: fluxo de caixa é uma coisa. DRE é outra.

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E é aí que mora um dos erros mais comuns — e perigosos — de quem empreende no Brasil. Afinal, a gente cresce ouvindo que “dinheiro na mão é vendaval”, mas o problema mesmo é quando o dinheiro passa pela mão e o empreendedor não entende o que aquele número representa.

O saldo da conta, por si só, é um retrato instantâneo. Um print. A DRE, por outro lado, é um filme inteiro — com créditos, dívidas, impostos, provisões e verdades que a conta bancária sozinha não revela.

Na prática, o fluxo de caixa diz: “você tem R$ 10 mil agora”. A DRE responde: “você ganhou R$ 10 mil, mas gastou R$ 12 mil pra isso — e deve mais R$ 5 mil em impostos que ainda nem foram pagos”.

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Fluxo de caixa é oxigênio. DRE é o exame de sangue.

Não se trata de qual é mais importante — ambos são essenciais. Mas confundir os dois é como respirar fundo e achar que está saudável, sem fazer um check-up. O caixa te diz se você consegue pagar as contas. A DRE te diz se seu modelo de negócio faz sentido.

E o que mais assusta é que esse erro não acontece só com pequenos negócios. Eu já vi empresa com sede bonita, equipe vestida com camiseta da marca, Instagram rodando anúncio e dono completamente alheio à diferença entre lucro contábil e saldo na conta.

O resultado é sempre o mesmo: a empresa quebra de forma silenciosa. Pois, quando as contas que ainda não foram realizadas chegam, o empreendedor já fez questão de usar o caixa que não era dele.

A culpa não é só do empreendedor. Mas é dele a responsabilidade de aprender.

Vamos ser justos: ninguém ensina isso na escola. A maioria começa a empreender na raça, tentando fazer dar certo. O contador entrega o DRE, mas não explica.

O sistema de gestão mostra o fluxo, mas não orienta. O banco empresta sem perguntar se o cliente entende o que está fazendo. Mas em algum momento, o jogo vira. E aí não dá mais pra terceirizar.

Todo empreendedor sério precisa entender o básico da linguagem financeira: lucro, caixa, margem, custos, ponto de equilíbrio, e sim — a diferença entre DRE e fluxo. Não é frescura. Não é “coisa de contador”. É sobrevivência.


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Fora o problema de quando o dinheiro entra no caixa e as contas se realizam depois, também tem o problema de quando o empreendedor vende, mas não vê o dinheiro em caixa.

Inclusive, essa frase é uma das mais ouvidas nas consultorias de pequenos negócios. E ela tem uma tradução clara: a empresa tem boas vendas, mas péssima estrutura financeira.

Gasta mais do que deveria. Faz promoções com margem negativa. Paga comissões sobre vendas que ainda não entraram no caixa. Acha que faturamento é lucro. E ignora o rombo que vem depois, quando os boletos se acumulam e o caixa seca.

Esse é um problema mais estrutural de custos e precificação. As vendas crescem, mas os custos crescem acima da venda, e aí a falência é certa.

Há ainda casos em que os custos e a precificação estão certos, mas a empresa não dispõe de capital de giro para crescer as vendas. Assume dívidas com fornecedores que vencem antes de receber do cliente. O resultado: quebra no giro da produção.

Por isso, afirmo que é muito importante todo empreendedor entender o que é caixa, o que é giro e o que é lucro. Somente assim dá para crescer um negócio com sustentabilidade.

Conclusão

Em conclusão, afirmo que confundir fluxo de caixa com DRE é como confundir saldo com saúde. E isso, no mundo real dos negócios, custa caro.

Você pode até manter o negócio respirando só com fluxo de caixa. Mas se a DRE estiver sangrando, uma hora o oxigênio acaba. E quando acabar, não vai ter post no Instagram, pitch bonito ou campanha de Black Friday que salve.

Entender essa diferença é um divisor de águas entre quem joga pra sobreviver e quem joga pra construir algo de verdade.

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José Carlos Sanchez Jr.

José Carlos Sanchez Jr.

Jornalista com foco em economia e política internacional, dedicado a interpretar como o poder e os mercados influenciam o Brasil e o mundo.

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