Brasília — O setor público voltou ao centro do debate sobre a transição ecológica. Representantes do BNDES, do Banco do Brasil, do Ministério da Fazenda e do Ministério do Meio Ambiente destacaram, durante o Encontro Global sobre Empresas Estatais e Ação Climática, no Rio de Janeiro, que a descarbonização produtiva dependerá da criação de instrumentos financeiros capazes de alinhar investimento público e privado a metas de sustentabilidade e inclusão.
O painel “Finanças Verdes para o Desenvolvimento Sustentável” reuniu especialistas brasileiros e o professor Tilman Altenburg, do Instituto Alemão de Desenvolvimento e Sustentabilidade.
Segundo ele, o mundo precisará de cerca de US$ 50 trilhões em investimentos para zerar as emissões líquidas de gases de efeito estufa até 2050 — volume que exige a presença ativa do Estado para reduzir riscos e direcionar o capital privado. “O governo precisa criar confiança e mecanismos de precificação de riscos; é o que diferencia experiências bem-sucedidas, como a da China”, afirmou.
A diretora de Governança Climática do Ministério do Meio Ambiente, Ana Paula Cunha Machado Cavalcante, ressaltou que decisões tecnológicas e ambientais de longo prazo não podem ser guiadas apenas pelo mercado. “Cabe ao Estado e às empresas públicas planejar essa transição em horizontes de décadas”, disse.
O secretário-executivo adjunto da Fazenda, Rafael Dubeux, lembrou que o Plano de Transformação Ecológica coloca o governo como coordenador do processo, combinando regulação, política industrial, inovação e tributação verde.
Ele citou a criação do mercado regulado de carbono e o projeto Combustível do Futuro como medidas que integram essa estratégia.
“Apenas o mercado de carbono não será suficiente; precisamos de um pacote articulado de instrumentos”, declarou.
O chefe do Departamento de Transição Climática do BNDES, Leonardo Pereira, também enfatizou que o desafio é ajustar a relação entre risco e retorno para destravar o financiamento verde.
“Os bancos públicos têm papel de catalisar capital privado, oferecendo garantias e instrumentos que reduzam o risco dos investidores”, explicou.

Ele lembrou que o Brasil possui mais de 100 milhões de hectares degradados — dos quais 40 milhões são recuperáveis — e que a restauração dessas áreas exigirá recursos em escala inédita.
No mesmo sentido, o Banco do Brasil anunciou que pretende elevar sua carteira de projetos sustentáveis dos atuais R$ 400 bilhões para R$ 500 bilhões até 2030, com prioridade para energia renovável, agricultura de baixo carbono e bioeconomia.
O especialista em finanças sustentáveis Jorge André Gildi dos Santos informou que a instituição já mobilizou R$ 75 bilhões por meio do programa Eco Invest Brasil, coordenado com os ministérios da Fazenda e do Meio Ambiente, voltado a atrair capital privado e externo para projetos de transição ecológica.
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Entre os mecanismos destacados estão o Fundo Clima, os acordos com o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o uso de créditos concessionais, com custo abaixo do mercado, para viabilizar projetos de reflorestamento, energia limpa e inovação ambiental.
Os participantes defenderam que a descarbonização produtiva não é apenas um desafio ambiental, mas também um projeto de desenvolvimento, que pode gerar empregos, modernizar a indústria e reduzir desigualdades regionais. O consenso é que a coordenação estatal — associada a instrumentos financeiros inteligentes — será decisiva para que o país consiga avançar rumo a uma economia verde e inclusiva.
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