EUA e Austrália

Washington — Os Estados Unidos e a Austrália assinaram um acordo de minerais críticos no valor de US$ 2 bilhões (US$ 1 bilhão de investimento de cada país) com o objetivo de frear o domínio da China sobre a cadeia de suprimentos globais. A injeção de capital público e o uso de instrumentos estatais, como o Exim Bank, demonstram que o Ocidente recorre à intervenção direta para proteger sua segurança econômica em setores estratégicos. O acordo, assinado pelo presidente Donald Trump e pelo primeiro-ministro Anthony Albanese, foca em minerais como terras raras, vitais para a indústria de defesa e de veículos elétricos.

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O encontro na Casa Branca, embora marcado por uma tensa troca de farpas de Trump com o embaixador australiano, Kevin Rudd, sinalizou a prioridade máxima dos Estados: garantir a resiliência das cadeias de suprimentos.

A China, que detém quase 95% do processamento global de terras raras, tem utilizado essa vantagem com novas restrições de exportação, forçando nações ocidentais a buscarem alternativas por meio do planejamento governamental e do investimento maciço.

O acordo assinado entre Washington e Canberra estabelece que os países investirão US$ 1 bilhão cada nos próximos seis meses em projetos de mineração e processamento.

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Além disso, a iniciativa cria um preço mínimo para minerais críticos, uma medida há muito tempo pleiteada por mineradoras ocidentais, mas que só se torna viável com a intervenção e garantia do Estado contra o preço artificialmente baixo imposto pelo monopólio.

O Exim Bank, o banco de crédito à exportação do governo dos EUA, reforçou a ofensiva, anunciando mais de US$ 2,2 bilhões em cartas de interesse para sete projetos australianos.

Em nota, o banco declarou que os investimentos ajudam a “apoiar a reindustrialização da base manufatureira de alta tecnologia da América, enquanto ajudam a ‘contra-atacar a dominância de exportação da China'”.

Essa declaração ilustra o abandono do ideal de livre-comércio em prol de uma geopolítica industrial agressiva, na qual o Estado direciona o capital para o interesse nacional.

EUA e Austrália

O acordo também aborda a segurança nacional, com o Pentágono planejando a construção de uma refinaria de gálio na Austrália Ocidental – um mineral cuja exportação foi bloqueada pela China em dezembro.

Paralelamente, o presidente Trump sinalizou apoio ao acordo militar AUKUS (Austrália, Reino Unido e EUA) para o fornecimento de submarinos nucleares, apesar de revisões internas.

Para o secretário da Marinha, John Phelan, os EUA e a Austrália estão trabalhando para “melhorar a estrutura AUKUS original” e “clarificar ambiguidades”, indicando que a cooperação de segurança exige a ação coordenada e o investimento público entre as nações.

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A iniciativa de US$ 2 bilhões, que será complementada pela cooperação no mapeamento de recursos geológicos e reciclagem de minerais, é vista por analistas como a única via para romper o domínio chinês.

Como afirmou o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Guo Jiakun, “países-chave de recursos minerais devem ter um papel ativo em garantir a segurança e a estabilidade da cadeia industrial e de suprimentos”.

A diferença é que os EUA e a Austrália, por meio do acordo, optaram pelo investimento estatal e pela cooperação, sinalizando que a proteção dos mercados e dos empregos de alta tecnologia não será deixada a cargo das forças cegas do mercado.

José Carlos Sanchez Jr.

José Carlos Sanchez Jr.

Jornalista com foco em economia e sociedade, dedica-se a investigar como decisões econômicas, políticas e sociais se entrelaçam na construção de um Estado de bem-estar social no Brasil.

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