Belém (PA) — A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) apresentou mais de 40 tecnologias voltadas à agricultura familiar na AgriZone, espaço da COP30 dedicado à inovação sustentável. A vitrine, organizada pelo Núcleo de Responsabilidade Socioambiental da instituição, reúne soluções que vão da captação de água da chuva à criação integrada de peixes e galinhas, passando por cultivos agroflorestais e bioinsumos. O objetivo é mostrar que ciência, política pública e sustentabilidade podem caminhar juntas para fortalecer a produção local e reduzir desigualdades no campo.
As demonstrações incluem sistemas simples e acessíveis, capazes de garantir segurança alimentar e renda para famílias rurais de baixa escala. Um dos destaques é o “Sisteminha Embrapa”, que integra hortas, galinheiros e tanques de piscicultura com compostagem e minhocário, formando um ecossistema produtivo circular.
Segundo o agrônomo Vladimir Bomfim, da Embrapa Amazônia Oriental, trata-se de uma tecnologia que alia inovação a propósito social: “São soluções que permitem autonomia ao pequeno produtor e ampliam o acesso a alimentos de qualidade, mesmo em contextos de vulnerabilidade”.
A mostra também apresenta sistemas agroflorestais com cultivos de açaí, cupuaçu e banana, demonstrando como a agricultura familiar pode gerar renda sem romper o equilíbrio ecológico.
Em um dos exemplos, as entrelinhas de plantio — espaços entre árvores de maior porte — são utilizadas para o cultivo de mandioca e hortaliças, permitindo retorno financeiro antes que as frutíferas entrem em produção. Essa combinação de produtividade imediata e sustentabilidade de longo prazo traduz a lógica da bioeconomia amazônica, que a COP30 busca projetar ao mundo.
Outro destaque é o uso da gliricídia, árvore que serve como tutor vivo para o cultivo de pimenta-do-reino. A técnica reduz a dependência de madeira, corta custos e diminui o impacto ambiental. Além disso, a Embrapa apresentou variedades adaptadas de feijão-caupi, arroz, trigo e amendoim, além de sistemas de hidroponia e fossa séptica biodigestora, pensados para pequenas propriedades.
São soluções que refletem a força da pesquisa pública brasileira em criar tecnologias tropicais adequadas às realidades locais — um contraponto às soluções importadas que muitas vezes ignoram as condições sociais e ambientais do país.

A presença da Embrapa na COP30 simboliza mais que uma mostra técnica: é uma afirmação de soberania científica. Enquanto o debate climático global se concentra em metas de descarbonização, o Brasil exibe um modelo de sustentabilidade enraizado na inclusão social.
A agricultura familiar, responsável por mais de 70% dos alimentos consumidos no país, é o eixo dessa estratégia: desenvolve sem destruir, gera renda sem concentrar e mantém viva a relação entre povo e território.
Nesse sentido, o o protagonismo da Agricultura Familiar reafirma a necessidade de um Estado que investe em pesquisa, extensão e inovação social. A vitrine da Embrapa em Belém funciona como metáfora de uma visão de país que aposta em sua ciência pública para conciliar crescimento e justiça ambiental.
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É uma resposta concreta a quem vê o desenvolvimento apenas pelo prisma industrial: a verdadeira modernização passa também pela valorização do saber local e da produção sustentável.
Ao exibir essas tecnologias diante do público internacional, o Brasil envia um recado político e simbólico: o futuro da Amazônia e do planeta depende da capacidade de integrar conhecimento, floresta e gente.
No pavilhão da AgriZone, entre sementes, peixes e folhosas, o que a Embrapa expõe não é apenas tecnologia — é um projeto de nação que insiste em florescer.











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