Brasília (DF) — O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou neste domingo que a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil por mês, combinada com a nova taxação sobre altas rendas, deve injetar R$ 28 bilhões na economia a partir de janeiro de 2026. Em pronunciamento em cadeia de rádio e televisão, Lula disse que o país registra hoje o menor nível de desigualdade da série histórica recente e que as mudanças no IR inauguram uma agenda tributária voltada à redistribuição de renda e ao fortalecimento do mercado interno.
O anúncio ocorre dias após a sanção da lei que oficializou a isenção e instituiu alíquotas adicionais para contribuintes com rendimentos superiores a R$ 600 mil por ano.
A medida, assinada na última quarta-feira (26), cumpre um dos compromissos centrais da campanha de 2022 e busca corrigir distorções de um modelo tributário que há décadas penaliza proporcionalmente mais trabalhadores assalariados do que indivíduos com alta capacidade de acumulação patrimonial.
No discurso de aproximadamente seis minutos, Lula relacionou a mudança no IR a uma série de programas implementados desde o início do governo — como Pé-de-Meia, Luz do Povo e Gás do Povo —, afirmando que ações combinadas de transferência de renda e políticas públicas ampliaram o acesso a serviços essenciais e reduziram desigualdades estruturais.
“Mesmo assim, o Brasil continua a ser um dos países mais desiguais do mundo”, disse. “O 1% mais rico acumula 63% da riqueza, enquanto a metade mais pobre detém apenas 2%.”
O governo apresentou cálculos sobre o impacto direto da isenção: um trabalhador que recebe R$ 4.800 ao mês economizará cerca de R$ 4 mil ao ano, montante equivalente a quase um décimo quarto salário.
A mensagem do Planalto é que o alívio tributário amplia a margem financeira das famílias, estimula o consumo e melhora o fôlego do mercado interno — algo fundamental após anos de estagnação de renda e inflação acumulada.
Para compensar a queda de arrecadação, a lei prevê uma alíquota extra progressiva de até 10% para cerca de 140 mil contribuintes de alta renda.

O governo argumenta que a medida corrige uma anomalia histórica: atualmente, indivíduos de renda elevada pagam, em média, 2,5% de imposto quando considerados lucros, dividendos e benefícios fiscais; ao passo que trabalhadores assalariados arcam com alíquotas efetivas entre 9% e 11%.
A correção, segundo o Planalto, busca aproximar a tributação brasileira de padrões internacionais e reduzir a disparidade entre quem vive do trabalho e quem vive da renda do capital.
A nova legislação, porém, não realiza uma atualização completa da tabela do IR. A alíquota máxima de 27,5% permanece válida para quem ganha acima de R$ 7.350 mensais.
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Segundo estimativas do Ministério da Fazenda, corrigir integralmente a tabela custaria mais de R$ 100 bilhões anuais — impacto considerado inviável no curto prazo em razão do arcabouço fiscal.
O presidente também afirmou que a mudança no IR é parte de uma estratégia mais ampla para deslocar o peso tributário das camadas de renda média e baixa para o topo da pirâmide.
A medida dialoga com diagnósticos que apontam que a estrutura do sistema tributário brasileiro prolonga desigualdades históricas ao taxar fortemente o consumo e relativamente pouco a renda alta, a herança e o patrimônio.
No pronunciamento, Lula insistiu na mensagem de que a economia brasileira só pode se fortalecer de maneira duradoura se a renda circular entre a maioria da população.
Para o governo, ampliar o poder de compra da base não é apenas política social: é condição estrutural para reativar setores produtivos, gerar empregos e reconstruir o dinamismo interno após um ciclo prolongado de baixo investimento.
O impacto fiscal e distributivo da isenção ainda será avaliado ao longo de 2026, mas o governo sustenta que a taxação dos super-ricos e o aumento do consumo devem compensar a renúncia inicial de arrecadação.
O Planalto aposta que o país entra em um ciclo em que a redução de desigualdades torna-se pré-condição para o crescimento — e não seu efeito tardio.











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