Economia

Nesta última semana, a economia brasileira foi marcada pela pressão fiscal no Congresso, pela volatilidade nos mercados de ações e câmbio e pela influência do cenário externo, onde o shutdown nos Estados Unidos interrompeu a divulgação de estatísticas cruciais e acentuou a incerteza sobre a política monetária americana.

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Atividade doméstica perde tração

O PMI de serviços de setembro confirmou contração mais forte, sinalizando que o consumo das famílias perde tração mesmo diante de um mercado de trabalho ainda resiliente. O crédito caro e a renda pressionada pela inflação ajudam a explicar o arrefecimento, que deve limitar o crescimento do PIB nos próximos trimestres.

Indo na contramão, o mercado de trabalho segue exibindo um desempenho historicamente positivo — a taxa de desemprego recuou para 5,6% no trimestre encerrado em agosto, o menor nível da série. No entanto, essa resiliência não se converte em aumento proporcional do consumo.

Até porque a inflação ainda pressionada e juros elevados restringem a renda disponível, corroendo a disposição para gastar. O resultado é um descompasso que sugere moderação adicional da atividade no fim do ano.

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Nesse contexto, o BBVA Research revisou para baixo as projeções de crescimento, prevendo avanço de 2,2% em 2025 e apenas 1,5% em 2026.

Um dos principais motivos da queda nas projeções é que a inflação deve encerrar 2025 próxima de 4,8%, ainda acima da meta, o que limita a margem de atuação do Banco Central e mantém o ambiente de crédito mais caro.

Fiscal volta ao centro do debate

Com a atividade arrefecendo, o espaço para políticas de estímulo se estreita e a atenção recai sobre a política fiscal. A aprovação, na Câmara, da ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda para rendas de até R$ 5 mil trouxe alívio imediato para famílias de menor renda, mas levantou dúvidas sobre a sustentabilidade das contas públicas.

O impacto na arrecadação ocorre justamente em um momento de desaceleração da economia, quando a base tributária já começa a enfraquecer.

Dessa forma, a medida traduz um dilema recorrente: ampliar renda disponível no curto prazo ou preservar espaço fiscal no médio prazo. No mercado, a reação foi cautelosa.

O Ibovespa terminou a semana pressionado, destoando dos recordes registrados em Wall Street, com destaque negativo para Petrobras, que acompanhou a queda do petróleo. 

Apesar da entrada líquida de R$ 4,8 bilhões de capital estrangeiro na B3 em 3 de outubro, saídas de investidores locais, na ordem de R$ 2,1 bilhões, limitaram o efeito positivo, fazendo com que o Real oscilasse próximo de R$ 5,32 por dólar, refletindo tanto fluxos financeiros quanto a percepção de risco doméstico.

A piora da percepção fiscal também compromete a avaliação de longo prazo sobre o Brasil. O país voltou a acessar mercados internacionais em 2025 com emissões relevantes de dívida externa, o que aumenta a exposição a choques globais. Qualquer sinal de deterioração das contas públicas se traduz na exigência de prêmio maior pelos investidores.

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Choques externos intensificam a instabilidade

Se o quadro doméstico já apresentava fragilidades, o ambiente externo adicionou camadas de incerteza. O shutdown do governo dos Estados Unidos, iniciado no fim de setembro, interrompeu a divulgação de indicadores cruciais como o payroll de setembro, deixando o Federal Reserve sem referências para calibrar sua política monetária.

Essa ausência de dados reforçou a volatilidade nos mercados, com apostas divididas entre cortes de juros ainda este ano e manutenção prolongada do atual patamar.

Enquanto isso, os fluxos globais de capital revelaram seletividade. Fundos de ações receberam ingressos expressivos de US$ 49 bilhões na semana até 1º de outubro — maior nível em 11 meses — sustentados pela expectativa de afrouxamento monetário nos EUA. 

Já fundos de títulos registraram captações mais tímidas, sinal de que os investidores continuam cautelosos diante da combinação de juros altos e incerteza fiscal em emergentes.

Outro fator decisivo foi o petróleo. As cotações internacionais recuaram de forma expressiva, acumulando a maior queda semanal desde junho. O movimento refletiu preocupações com excesso de oferta e demanda global enfraquecida, além da expectativa de que a Opep+ amplie a cota de produção.

Para o Brasil, o impacto é direto: a Petrobras viu suas ações caírem, pressionando o Ibovespa, e a arrecadação federal perde um importante reforço num momento de pressão fiscal.

A queda do petróleo também afeta o apetite por ativos brasileiros de forma indireta, já que investidores tendem a reduzir exposição a emergentes vinculados a commodities quando preços internacionais se enfraquecem.

A combinação de arrefecimento doméstico e choques externos deixa o Brasil em uma posição desconfortável: menor crescimento, maior risco fiscal e maior dependência do humor internacional.

José Carlos Sanchez Jr.

José Carlos Sanchez Jr.

Jornalista e redator especializado em economia, finanças e investimentos. É Administrador de Empresas com MBA em Gestão Financeira, Controladoria e Auditoria pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).

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