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Washington — O Fundo Monetário Internacional projetou crescimento de 2,4% para a América Latina e o Caribe em 2025 e 2,3% para 2026 ao apresentar em Washington o relatório preliminar do hemisfério ocidental, divulgado durante a reunião anual da instituição. O documento alerta para o risco de estagnação prolongada na região e reforça a necessidade de coordenação entre política fiscal e monetária para conter o avanço da dívida pública, que permanece elevada em boa parte dos países.

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O balanço da semana deixou claro que, para o Fundo, a região conseguiu resistir às turbulências dos últimos anos — inflação sob controle, sistemas bancários sólidos e alguma estabilidade cambial —, mas segue distante de um caminho de crescimento sustentado.

O FMI voltou a insistir na urgência de elevar a produtividade, expandir o investimento público e enfrentar gargalos estruturais, como a informalidade no trabalho e a baixa integração regional. O alerta não é novo, mas ganha peso diante do esgotamento do modelo de ajuste que dominou as economias latino-americanas na última década.

O diretor do Departamento do Hemisfério Ocidental do Fundo, Rodrigo Valdés, afirmou que estabilidade macroeconômica não basta. Segundo ele, a região entrou em um ponto de inflexão no qual a rigidez fiscal e o endividamento crescente limitam a capacidade dos governos de investir em infraestrutura, energia e inovação.

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A mensagem repercutiu entre ministros e autoridades econômicas presentes às reuniões em Washington, que tentam equilibrar a necessidade de preservar a credibilidade fiscal com a pressão por políticas de desenvolvimento produtivo. O dilema reapareceu em todos os debates: gastar mais para crescer ou manter o ajuste diante de juros altos e demanda global incerta.

Entre os países que compõem o painel regional, as diferenças são marcantes. O México se beneficia do redirecionamento de cadeias produtivas globais e do avanço do chamado nearshoring, mas enfrenta desaceleração industrial e forte dependência das exportações para os Estados Unidos.

O Brasil, mesmo com a redução dos juros, continua pressionado pelo déficit fiscal e pela lentidão dos investimentos públicos. Chile e Colômbia mantêm inflação controlada, mas veem o endividamento subir em proporção ao PIB. No conjunto, o quadro é de recuperação parcial, porém com sinais visíveis de exaustão.

O FMI também destacou as oportunidades associadas ao financiamento climático e à transição energética. O relatório preliminar aponta que a América Latina poderia se beneficiar de sua abundância em recursos naturais — lítio, cobre e energia renovável —, desde que consiga construir um ambiente regulatório estável e atraente para investimento estrangeiro.

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Mas o Fundo reconhece que a janela de oportunidade é estreita. Sem políticas industriais consistentes, a região corre o risco de continuar exportando matérias-primas de baixo valor agregado enquanto importa tecnologia e equipamentos de alto custo.

A discussão sobre financiamento verde expôs outra tensão: a distância entre o discurso multilateral e a realidade fiscal dos países latino-americanos.

Embora o FMI e o Banco Mundial defendam maior investimento em projetos sustentáveis, as condições de crédito internacional permanecem duras, e muitos governos não têm margem para ampliar gastos sem comprometer metas de dívida.

Na prática, as nações da região seguem dependentes de capitais externos sensíveis à volatilidade global e à política monetária norte-americana.

Ao longo da semana, as autoridades econômicas latino-americanas tentaram sinalizar compromisso com reformas estruturais e responsabilidade fiscal. Mas o tom dos debates mostrou que o continente ainda busca uma narrativa própria de desenvolvimento.

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A insistência do Fundo em combinar disciplina macroeconômica com políticas inclusivas foi recebida com certo ceticismo. A percepção de que o ajuste permanente se tornou obstáculo ao crescimento real se espalha entre economistas e formuladores de políticas.

Enquanto o discurso oficial do FMI defende estabilidade como pré-condição para o desenvolvimento, o cotidiano dos mercados reais — produção, consumo, emprego e comércio — mostra que o equilíbrio nominal já não garante prosperidade.

A queda do investimento produtivo, o enfraquecimento da indústria e a perda de dinamismo no mercado de trabalho colocam a região diante de uma escolha difícil: continuar priorizando o ajuste ou assumir o risco de uma guinada desenvolvimentista.

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O relatório preliminar do Fundo não oferece respostas definitivas, mas deixa implícita uma constatação: sem reformas que elevem a produtividade e sem maior integração regional, a América Latina continuará crescendo pouco, mesmo em um cenário de estabilidade macroeconômica.

A próxima década dependerá da capacidade de transformar estabilidade em motor produtivo — um desafio que exige mais do que equilíbrio fiscal. Exige visão industrial, investimento de longo prazo e vontade política para romper com o ciclo de baixo crescimento que já dura quarenta anos.

A semana termina com a sensação de que o continente está novamente diante de um impasse. O FMI reconhece o esforço de consolidação, mas alerta que a paciência da sociedade e dos mercados tem limite. A estabilidade foi conquistada, mas o desenvolvimento ainda não começou.

José Carlos Sanchez Jr.

José Carlos Sanchez Jr.

Jornalista com foco em economia e sociedade, dedica-se a investigar como decisões econômicas, políticas e sociais se entrelaçam na construção de um Estado de bem-estar social no Brasil.

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