Brasília (DF) — O desmatamento caiu novamente no Brasil. Segundo o sistema Prodes, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a área devastada na Amazônia entre agosto de 2024 e julho de 2025 foi de 5.796 km², uma redução de 11,08% em relação ao período anterior. No Cerrado, a queda foi semelhante, 11,49%, com perda de 7.235 km² de vegetação nativa. Os números confirmam o terceiro ano consecutivo de recuo desde 2022 e colocam o país em trajetória de cumprimento da meta de desmatamento zero até 2030.
A curva descendente, porém, ainda é frágil. O avanço das fronteiras agrícolas e a valorização das commodities mantêm pressão sobre biomas estratégicos. Mesmo com a queda nacional, Mato Grosso registrou aumento de 25% na taxa de desmatamento, mostrando que o equilíbrio entre produção e preservação continua sendo o ponto cego da política ambiental brasileira.
Entre 2022 e 2025, o país evitou a emissão de 733,9 milhões de toneladas de CO₂ equivalente apenas com a redução do desmatamento na Amazônia e no Cerrado — um volume similar às emissões anuais combinadas de Espanha e França. O dado reforça o peso do Brasil na política climática global e a importância das florestas tropicais na regulação do clima planetário.
O Ministério do Meio Ambiente atribui o resultado à reestruturação dos planos de combate ao desmatamento e à retomada da Comissão Interministerial Permanente de Prevenção e Controle do Desmatamento, que articula 19 ministérios.
As ações de comando e controle também cresceram: o Ibama aumentou em 81% o número de autos de infração na Amazônia desde 2022, e o ICMBio realizou mais de 400 operações de fiscalização nos últimos 12 meses.
Nos municípios prioritários — um grupo de 81 cidades da Amazônia Legal que aderiram ao programa União com Municípios —, a redução foi ainda mais expressiva: 65,5%.
Essa queda, segundo o secretário de Controle do Desmatamento do MMA, André Lima, é resultado direto da parceria federativa que transfere recursos e incentiva a criação de políticas locais de uso sustentável do território.
O Fundo Amazônia, reativado em 2023 e hoje com oito países doadores, tem papel central nesse processo. Apenas nos últimos três anos, o fundo aprovou R$ 3,6 bilhões em novos projetos, incluindo R$ 850 milhões voltados especificamente ao reforço da fiscalização ambiental.

Segundo o MMA, os investimentos também têm foco em cadeias produtivas sustentáveis, para que “a floresta em pé seja mais rentável que sua destruição”.
Ainda assim, o desafio está longe de resolvido. O Cerrado, bioma que concentra o coração do agronegócio brasileiro, responde por quase 80% do desmatamento nacional e mantém ritmo preocupante nas regiões do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia). O avanço de pastagens e monoculturas segue ameaçando áreas de recarga hídrica essenciais para os principais rios do país.
A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, classificou o resultado como “confirmação de que a agenda ambiental voltou a ser prioritária no governo”. Para ela, o combate ao desmatamento é também uma política de adaptação climática: “Cada hectare preservado reduz o impacto dos eventos extremos que já atingem o país”.
O presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, destacou o papel da tecnologia e da presença em campo na queda das taxas, enquanto o ICMBio credita o avanço à formação de novos fiscais e à estruturação de brigadas permanentes.
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Os dados reforçam o contraste entre 2025 e o período anterior a 2023, quando o desmatamento anual ultrapassava 11 mil km² na Amazônia. Agora, a taxa é menos da metade e volta a patamar semelhante ao de 2015, auge das políticas de redução implementadas no segundo governo Lula.
O Brasil chega, portanto, à COP30 com números que fortalecem sua posição diplomática na agenda climática global. Mas a sustentabilidade dos resultados depende de dois fatores: financiamento estável e convergência com a política agrícola.
Em um país que ainda depende de commodities para equilibrar as contas externas, conter o desmatamento exige mais do que fiscalização: requer um novo modelo de desenvolvimento capaz de reconciliar economia e natureza.
A redução de 2025 é conquista real, mas ainda é uma trégua frágil diante da pressão de um sistema produtivo que continua medindo progresso em hectares derrubados.










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