A fabricante de máquinas agrícolas Deere & Co. projeta queda entre 5% e 6% nas vendas no Brasil em 2026. O vice-presidente Antonio Carrere atribui a retração a três fatores: tarifas impostas pelos Estados Unidos, juros domésticos elevados e instabilidade política que afeta a confiança do agronegócio.
Prefere ouvir o artigo? Então aperte o play!
Tarifas dos EUA pressionam operação global
Um dos pontos mais sensíveis destacados por Carrere são as tarifas comerciais implementadas pelo governo norte-americano. As medidas têm encarecido a importação de insumos e dificultado o escoamento de equipamentos agrícolas produzidos em outros países.
Segundo o executivo, a política tarifária de Donald Trump pode gerar efeitos de longo prazo no setor. A Deere já vinha relatando impacto negativo em suas margens desde o início do novo mandato, e agora reforça que esse cenário poderá comprometer a expansão no Brasil.
No balanço global, a empresa movimenta mais de US$ 55 bilhões, mas a maior parte desse valor depende de cadeias internacionais de fornecimento que estão cada vez mais pressionadas.
Além do aspecto financeiro, Carrere ressaltou que a volatilidade das regras comerciais gera insegurança para o planejamento estratégico da companhia. “O agronegócio trabalha com ciclos longos de investimento. Qualquer mudança de rota nos custos globais altera a forma como as empresas e os agricultores decidem suas compras”, afirmou.
Juros elevados reduzem apetite por máquinas
O segundo obstáculo apontado é o custo do crédito no Brasil. As taxas de financiamento rural estão próximas de 18% ao ano, o que encarece a aquisição de tratores, colheitadeiras e implementos de grande porte.
Carrere destacou que muitos produtores têm adiado planos de modernização por não encontrarem condições acessíveis de pagamento. Para uma indústria baseada em equipamentos de alto valor agregado, cada ponto percentual nos juros representa uma diferença significativa na decisão de compra.
O cenário contrasta com a demanda estrutural por mecanização agrícola, que continua crescendo à medida que o Brasil amplia sua produção de soja, milho e algodão.
A dificuldade está em equilibrar essa necessidade com a capacidade real de investimento do produtor. “Temos um setor pujante, mas sem crédito barato fica difícil sustentar o ritmo de renovação da frota”, observou o executivo.
Leia mais
Instabilidade política amplia incertezas no agro
Além das questões econômicas, a instabilidade política também preocupa a Deere. Carrere mencionou que eventos recentes, como o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal e as tensões diplomáticas entre os governos de Trump e Lula, têm criado insegurança no ambiente de negócios.
Esse quadro afeta diretamente o agronegócio, setor que depende de previsibilidade para fazer investimentos de longo prazo. “O agro é uma indústria de altos valores e de planejamento estendido. O minuto em que eu tenho incertezas ‘in the mix’, isso gera desconforto para o cliente”, disse o executivo.
A falta de clareza sobre a política agrícola e as linhas de crédito subsidiadas também contribui para adiar decisões de compra. Muitos produtores preferem esperar sinais mais claros do governo antes de assumir novos compromissos financeiros.
Perspectivas para o setor
Diante desse cenário, o mercado acompanha com atenção os próximos passos da Deere & Co. no Brasil. A empresa poderá rever estratégias de preço, ampliar programas de financiamento próprio ou reforçar parcerias com bancos para mitigar os efeitos dos juros altos.
Ao mesmo tempo, o desfecho das disputas comerciais entre Estados Unidos e parceiros globais tende a influenciar diretamente a competitividade dos equipamentos agrícolas.
No curto prazo, a atenção está voltada à evolução da política monetária no Brasil e às negociações comerciais internacionais. Se houver alívio nos juros ou reconfiguração das tarifas, parte da demanda reprimida pode ser retomada. Caso contrário, o setor de máquinas agrícolas deverá enfrentar um 2026 de ajustes e margens mais apertadas.