Pacto comercial da ONU

Genebra — Entre 20 e 23 de outubro, a 16ª Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad16) reuniu em Genebra mais de 160 delegações nacionais, incluindo ministros de comércio, relações exteriores e finanças, com o objetivo de desenhar a estrutura da próxima era da economia global. O encontro, liderado pela secretária-geral da Unctad, Rebeca Grynspan, foi convocado porque as velhas certezas que nortearam o sistema multilateral por décadas estão ruindo, tornando a “previsibilidade da mercadoria mais escassa” no cenário internacional.

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A principal tese da conferência reside na interpretação de que o mundo vive um momento de profunda transição, onde a inação pode ser mais custosa do que qualquer reforma ousada. Grynspan alertou que a comunidade internacional tem uma oportunidade histórica para repensar o comércio e o desenvolvimento global, mas sublinhou as consequências de manter o status quo.

A líder da Unctad foi enfática ao destacar que, se os países continuarem a operar na defensiva e priorizando o isolamento, a dependência de commodities será consolidada, os encargos da dívida se tornarão permanentes, a exclusão digital vai se aprofundar de forma irrecuperável, e a necessária transição climática será financeiramente insustentável para a maioria das nações.

A mudança nos fundamentos da economia global é um fator incontornável. Grynspan pontuou que a geografia do crescimento econômico global se alterou dramaticamente, com mais de três quartos da expansão atual tendo origem em países em desenvolvimento, um dado que desafia a estrutura de poder e os mecanismos de tomada de decisão tradicionais.

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No entanto, o sistema enfrenta turbulências graves, como o aumento das desigualdades e a eclosão de “mudanças tarifárias mais drásticas do que em qualquer outro momento da história recente”. O debate, portanto, transcendeu a mera coordenação, concentrando-se em como resistir às forças que buscam restringir o comércio e o investimento global.

Um dos pilares críticos abordados foi a urgência de corrigir vulnerabilidades nos países em desenvolvimento. A crise da dívida foi citada como um fardo que impede a aplicação de capital em infraestrutura sustentável.

Além disso, a Unctad colocou a desigualdade digital no centro do debate: 2,6 bilhões de pessoas – em sua maioria mulheres – permanecem offline, o que as impede de se beneficiar das chamadas “mudanças tectônicas”, como o avanço da energia limpa e os progressos na adoção da inteligência artificial.

O documento final da conferência buscou transformar compromissos políticos em ações práticas, incluindo mecanismos de cooperação Sul-Sul mais robustos e a criação de ambientes que efetivamente atraiam investimento sustentável.

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Apesar das dificuldades enfrentadas por negociadores e da crise de confiança que paira sobre as instituições multilaterais, a secretária-geral fez um reconhecimento da força do esforço coletivo.

Ela elogiou o fato de os países continuarem negociando mesmo quando a utilidade do sistema era questionada. Grynspan destacou que esses esforços conjuntos “evitaram, por enquanto, o efeito dominó da escalada tarifária que um dia levou a economia mundial à ruína na década de 1930”.

A conclusão da Unctad16, no seu 61º aniversário, é que o futuro da economia global ainda pode ser moldado para ser mais dinâmico, sustentável e equitativo, mas exige a coragem dos Estados-membros para abandonar a defensiva e pagar o preço das reformas.

José Carlos Sanchez Jr.

José Carlos Sanchez Jr.

Jornalista com foco em economia e sociedade, dedica-se a investigar como decisões econômicas, políticas e sociais se entrelaçam na construção de um Estado de bem-estar social no Brasil.

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