O mercado de petróleo volta a mostrar sinais de tensão no fim de setembro. De um lado, a OPEC+ enfrenta dificuldades para cumprir suas metas de produção e já opera abaixo do prometido. De outro, ataques ucranianos a refinarias e oleodutos russos reduziram ainda mais o fornecimento ao mercado internacional. Em paralelo, o Iraque retomou, após mais de dois anos, o fluxo de petróleo do Curdistão para a Turquia, aliviando parcialmente a oferta, mas sem dissipar o sentimento de aperto. O resultado imediato foi a alta do Brent para acima de US$ 70 o barril, nível não visto desde meados de agosto.
OPEC+ produz menos que o acordado e acende alerta de capacidade
Desde abril, quando o grupo iniciou a retirada gradual de cortes adicionais feitos em 2023, os países da OPEC+ têm conseguido entregar apenas cerca de 75% do aumento previsto. A diferença equivale a quase 500 mil barris por dia, aproximadamente 0,5% da demanda global.
O déficit é explicado por dois fatores: compensações exigidas a países que excederam suas cotas anteriormente e, sobretudo, pela limitação de capacidade produtiva de membros como Argélia, Cazaquistão e Omã.
Hoje, a maior parte da capacidade ociosa do cartel está concentrada em Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, o que reforça a percepção de fragilidade estrutural do grupo.
Essa escassez relativa sustentou o Brent próximo das máximas de sete semanas, e analistas como Barclays e UBS destacam que o mercado já precifica um cenário de “tightness” — quando a oferta imediata é mais valorizada que contratos futuros, sinal de restrição no curto prazo.
Guerra na Ucrânia corta exportações russas e pressiona preços
O segundo fator que dá suporte às cotações é o choque geopolítico. Novos ataques de drones ucranianos contra instalações de refino e transporte na Rússia levaram Moscou a anunciar a suspensão parcial das exportações de diesel até o fim do ano, além da extensão da proibição de vendas de gasolina.
A perda de capacidade de refino não afeta apenas o mercado doméstico russo, mas também compromete fluxos de combustíveis para parceiros estratégicos como Índia e Turquia. O risco de sanções adicionais da OTAN e de restrições mais duras impostas por aliados dos EUA adiciona uma camada de incerteza.
Na prática, a redução de exportações da Rússia diminui a disponibilidade global de derivados, ao mesmo tempo em que eleva a sensibilidade dos preços do barril a qualquer interrupção adicional. Com isso, o Brent fechou a semana acumulando alta de mais de 5%, enquanto o WTI avançou para perto de US$ 66.
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Iraque retoma exportações do Curdistão, mas fluxo ainda é limitado
Em paralelo, o Ministério do Petróleo do Iraque anunciou a retomada do fluxo de petróleo da região autônoma do Curdistão para a Turquia, interrompido desde março de 2023. O acordo provisório entre Bagdá, o governo regional curdo e companhias estrangeiras permite o envio de 180 mil a 190 mil barris por dia para o porto turco de Ceyhan.
Embora represente um alívio parcial, o volume ainda é pequeno diante do déficit acumulado da OPEC+ e das perdas de exportação da Rússia. Autoridades iraquianas estimam que, em breve, a produção do país poderá chegar a 3,6 milhões de barris por dia, mantendo-se dentro da cota de 4,2 milhões estabelecida pelo cartel.
A volta dos embarques curdos também reabre discussões sobre dívidas bilionárias da região com produtoras internacionais, além de mostrar o peso da pressão dos Estados Unidos para reativar esse canal de fornecimento em meio ao quadro global de aperto.
Um mercado que segue refém do equilíbrio precário
A soma desses fatores — OPEC+ produzindo abaixo da meta, ataques que reduzem exportações russas e retomada parcial do fluxo iraquiano — mantém os investidores em alerta.
Se por um lado há novos barris entrando no mercado via Curdistão, de outro as limitações estruturais do cartel e a escalada geopolítica sugerem que a folga na oferta é cada vez menor.
No curto prazo, a curva de preços já indica preferência por contratos imediatos, enquanto projeções de bancos e consultorias ainda não revisaram para cima as expectativas para 2025. O que permanece evidente é a percepção de um mercado frágil, dependente de poucos players e altamente sensível a choques externos.