Brasília (DF) — Na próxima quarta-feira (5), o Comitê de Política Monetária (Copom) decidirá pela manutenção ou corte da taxa básica de juros sob intensa pressão e crescente questionamento sobre sua eficácia. Hoje, a taxa Selic — uma das mais altas do mundo em termos reais — é vista por economistas como um entrave ao crescimento, mais do que um escudo contra a inflação.
A descompressão inflacionária, evidenciada pelos dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) — que registrou deflação de -0,11% em agosto e se manteve em 5,17% no acumulado de 12 meses até setembro de 2025 —, enfraquece o argumento do Banco Central (BC) para a manutenção de uma política monetária tão restritiva.
Essa política, centrada no controle de preços via juros elevados, é criticada por um grupo significativo de economistas que vê na prioridade monetária uma falha estrutural: ela drena capital do setor produtivo para o rentismo e aumenta o custo da dívida pública sem gerar estabilidade sustentável.
O economista André Lara Resende, um dos formuladores do Plano Real, aponta a contradição dessa estratégia. Em artigo recente no Valor Econômico, ele destacou que o próprio Banco Central, ao manter juros extraordinariamente altos, agrava o desequilíbrio fiscal que afirma combater.
Segundo Resende, o custo da dívida gerado pela Selic elevada é hoje o principal vetor do risco fiscal, ou seja, quanto maior a taxa de juros, maior o custo para manter a dívida — e menor o espaço no orçamento para investir em infraestrutura, educação e saúde.
Para Resende, o Brasil confunde inflação de custos — causada por choques externos, energia e alimentos — com inflação de demanda, que seria de fato sensível aos juros. Nesse equívoco, o país insiste em aplicar o mesmo remédio, mesmo quando o diagnóstico mudou.
Vale destacar que juros em patamares tão altos são incompatíveis com o crescimento sustentável que o país almeja. É a materialização, na visão de Celso Furtado, da “fantasia da estabilidade financeira” dissociada do desenvolvimento produtivo — um parasitismo financeiro que sobrepõe a especulação ao trabalho e à produção.
O alívio nos preços de alimentos, que recuam pelo quarto mês consecutivo (-0,26% em setembro), indica que grande parte da desinflação é de origem cíclica e de oferta, não exigindo o estrangulamento de crédito e demanda promovido pela Selic.
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Nesse sentido, a política de juros altos transfere o custo do ajuste à população. Como resume o economista Pedro Rossi, do Instituto de Economia da Unicamp, trata-se de “combater a inflação com desemprego” — um método que gera um custo social desproporcional sem atacar as causas estruturais da alta de preços.
Inclusive, diversos países vêm revisando seus regimes monetários. Finlândia e Espanha, por exemplo, ao integrarem a zona do euro, substituíram suas metas nacionais de inflação por uma política monetária comum conduzida pelo Banco Central Europeu — evidenciando que as metas não são um dogma, mas um instrumento sujeito a revisão.
Já o Chile, referência na América Latina, adota um modelo mais flexível, que considera o horizonte de médio prazo e reconhece que choques de oferta não devem ser combatidos com alta de juros.
Nesse contexto, o Brasil chega a mais uma reunião do Copom diante de um dilema: continuar favorecendo o rentismo, mesmo em um quadro de desinflação, ou repensar a política monetária em favor de um novo ciclo desenvolvimentista, em que estabilidade e crescimento voltem a caminhar juntos.

            
            
            
            








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